Nova secretária executiva do Ministério da Cultura, Jeanine
Reis tem pela frente ao menos dois desafios: a aprovação pelo Congresso do Vale
Cultura - que tanto Juca Ferreira quanto Ana de Hollanda não concretizaram - e
o aumento no orçamento do ministério. Para tanto, admite a retirada dos
aposentados do projeto do Vale Cultura. "É melhor conseguirmos o benefício
para os trabalhadores que não aprovar o projeto", diz.
Nomeada há duas semanas por Marta Suplicy, Jeanine Pires substitui Victor
Ortiz, homem forte da gestão anterior. Formada em História, com especialização
em Economia do Turismo, ela já trabalhara com a ministra durante sua passagem
pelo Ministério do Turismo. Entre 2006 e 2010, foi presidente da Embratur e, na
entrevista a seguir, fala do objetivo de articular a produção cultural e a
imagem do Brasil no exterior, apostando na "importância da cultura para a
identidade e a imagem de um país".
Você tem vasta experiência no setor de
turismo e presidiu a Embratur. Como pretende utilizar esta experiência na
promoção e incentivo à produção cultural nacional?
Jeanine Pires - Estive durante oito anos na Embratur e a experiência no
turismo me mostrou que seremos mais competitivos melhorando infraestrutura,
produtos e serviços turísticos, mas sobretudo se nossa diversidade natural e
cultural estiverem sendo promovidas como atrativos do Brasil. Nossa cultura é
que nos diferencia e nos torna únicos. Aqui a valorização de nossa identidade e
patrimônio são fundamentais.
Qual sua posição sobre o Vale Cultura e
sobre sua importância para a indústria cultural brasileira? Concorda com a
proposta de retirada dos aposentados do projeto?
Jeanine Pires - O Vale Cultura será um grande avanço para o acesso à
cultura no País, possibilitando o consumo também de bens ligados a todas as
áreas da arte, música, cinema, patrimônio, entre outros. É muito importante que
o projeto seja aprovado, e o fato é que a inclusão dos aposentados inviabiliza
financeiramente a proposta. Assim, é melhor conseguirmos o benefício para os
trabalhadores do que não aprovar o projeto. Creio que existem mecanismos até
mais amplos e interessantes que podem dar aos aposentados oportunidades na área
de cultura como o Programa Viaja Mais Melhor Idade, que a ministra Marta lançou
quando estava no turismo. Isso possibilita oportunidades maiores para pessoas
que podem programar viagens em períodos de baixa estação e com descontos.
Em termos práticos, tem em mente alguma
ação já aplicada, e bem sucedida, no setor turístico que possa ser utilizada
também no setor cultural, em questão de produção, difusão, divulgação?
Jeanine Pires - As oportunidades são imensas, nesse pouco tempo que estou
aqui já identifiquei, por exemplo, que a ampliação da projeção da imagem do
Brasil no exterior será cada vez maior nos próximos anos, e que nosso
patrimônio cultural tem grande apelo e curiosidade. As pesquisas que existem
com estrangeiros que conhecem ou gostariam de conhecer o Brasil mostram que o
estilo de vida dos brasileiros, nossa música, arte, cinema, televisão, ou
aspectos de nossa cultura, como o frevo ou a gastronomia, são motivos para
conhecer o país. Vejo que a difusão da cultura brasileira pode trazer
benefícios por meio de cooperação e estímulo para que o mundo conheça nossos
valores.
Como analisa, e como vai tratar a
aprovação do novo orçamento do Ministério da Cultura para o próximo ano?
Jeanine Pires - Estamos focados em encerrar 2012 com uma boa execução
orçamentária. Em 2013, o orçamento aprovado já contempla uma ampliação de 63%,
incluindo ações importantes como o PAC das Cidades Históricas e a ampliação dos
Pontos de Cultura, por exemplo.
Qual sua posição sobre a decisão do
Ministério da Cultura de lançar editais para produção cultural realizada por
negros? Acredita que esta é mais uma forma de democratizar não só o consumo,
mas também a produção cultural no País?
Jeanine Pires - É uma ação afirmativa. Acredito que a ministra foi
sensível em propor, o que fez em resposta à reivindicação de diversos
produtores e criadores.
Fonte: O Estado de
S.Paulo
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