Morreu, aos 97 anos, o diretor teatral, senador e escritor negro, Abdias do Nascimento

Postado em 25 de maio de 2011 por Cooperativa Cultural Brasileira

O ativista Abdias do Nascimento, símbolo do combate à discriminação racial no Brasil, morreu na noite de anteontem aos 97 anos, no Rio de Janeiro.

Escritor, jornalista e ex-parlamentar, ele estava internado desde abril por causa de uma pneumonia que agravou problemas cardíacos e renais crônicos e não resistiu às complicações da doença.

Em nota, a presidente Dilma Rousseff lamentou a morte de Nascimento, afirmando que o Brasil "perdeu um de seus maiores líderes no combate à discriminação racial".

Nascido na cidade de Franca (SP), em 1914, Abdias Nascimento se mudou para o Rio em 1936 e iniciou naquela década sua militância no movimento negro.
Chegou a ser preso em duas ocasiões por protestar contra a discriminação e a ditadura do Estado Novo (1937-45) e exilou-se nos Estados Unidos por 13 anos durante o regime militar.
Já de volta ao Brasil, em 1981, foi um dos fundadores do PDT. Sempre como suplente, foi deputado federal entre 1983 e 1986, e duas vezes senador na década de 90.
Como parlamentar, foi um dos primeiros a apresentar projetos de ações afirmativas para negros, como o que previa a criação de uma cota de 20% para mulheres negras e de 20% para homens negros na seleção de candidatos ao serviço público.
Seu corpo será velado na Câmara Municipal do Rio amanhã, a partir das 18h, e cremado na sexta-feira.

Fonte: ANTÔNIO GOIS / RODRIGO RÖTZSCH/ Folha de São Paulo

Obra de Gabriel García Márquez inspira peça de teatro 'Gardênia'

Postado em 24 de maio de 2011 por Cooperativa Cultural Brasileira

Reconhecido mundialmente, o colombiano Gabriel García Márquez escreveu obras que lançaram um gênero conhecido como realismo mágico na literatura latino-americana. Inspirada no universo proposto pelo autor, a companhia “El Otro” Núcleo de Teatro concebeu “Gardênia”, peça que estreia dia 27 de maio no Teatro João Caetano.

O espetáculo é livremente inspirado na obra “O Amor nos Tempos do Cólera”, romance de 1985. “Gardênia é uma história de amor contada por dois atores, dez retroprojetores e uma vitrola. A encenação acompanha a saga de Fermina Daza e Florentino Ariza: o amor de juventude, suas vidas apartadas e o reencontro na velhice”, conta a diretora de produção, Tetembua Dandara.

Com direção de Marat Descartes, a peça foi construída de forma cuidadosa no intuito de levar ao palco a linguagem cheia de imagens e sensações de García Márquez. “Gardênia se firma na simplicidade de uma boa história, uma boa cena e na relação honesta com o espectador. Dessa forma, o espetáculo e o fazer teatral são tão persistentes e firmes como o amor das personagens”, resume Dandara.

Teatro João Caetano
Rua Borges Lagoa, 650, Vila Clementino - Zona Sul.
Tel.: (11) 5573-3774 e (11) 5549-1744.
De 27/5 à 26/6. 
Às sextas-feiras e aos sábados às 21hs.
Aos domingos às 19hs
Investimento: R$ 10.

Atenção: os ingressos podem ser adquiridos pela INGRESSO RÁPIDO pelo telefone 4003-2050, site ou, ainda, na bilheteria do próprio local. Apenas para entrega em domicílio será cobrada taxa.

Grupos encenam Shakespeare e Maria Clara Machado

Postado em por Cooperativa Cultural Brasileira

Ambas estreiam dia 28 de maio, no Teatro João Caetano e Paulo Eiró, respectivamente.

Duas peças indicadas ao público infantil, “Shakespeare Amarrotado” e “O Cavalinho Azul”, têm data de estreia marcada para dia 28 de maio, respectivamente nos Teatros João Caetano e Paulo Eiró.

Com direção de Dagoberto Feliz e encenação da Cia. Caso de Matraca, “Shakespeare Amarrotado” é um musical inspirado no texto “Guerreiros da Bagunça”, de Guto Grecco. Nele, dois palhaços debatem sobre quem é o verdadeiro autor de “Romeu e Julieta”. Para isso, ambos apresentam cada um sua versão para o clássico shakespeariano, contando com a participação de duas atrapalhadas produtoras. O espetáculo conta com passagens importantes da obra, como a cena da morte e a do duelo, cada qual concebida de forma diferente, propondo um novo olhar sobre a tragédia amorosa.

Contemplada pelo 13º Festival Cultura Inglesa, a peça faz sua estreia em São Paulo com um cenário produzido por Kleber Montanheiro que remete a palhaços e bonecos, esses últimos elaborados por Fernando Gomes, diretor da série “Cocoricó”, da TV Cultura.

Já “O Cavalinho Azul” tem Rodrigo Palmieri na direção e texto de Maria Clara Machado, autora de grandes sucessos da dramaturgia infantil, como “Pluft, o Fantasminha”. O espetáculo é narrado por João de Deus, que conta a história de Vicente, garoto sonhador e pobre que gosta de um pangaré. Para o menino, ele é um lindo cavalo azul, capaz de dançar e voar. Depois que seus pais resolvem vender o animal, Vicente decide buscá-lo, passando por um universo desconhecido com muitos perigos e apuros.

Encenada pela companhia República Ativa de Teatro, a montagem utiliza diversos elementos da cultura brasileira, como os instrumentos musicais caxixi, pandeiro e cuíca. Desde sua estreia em 2009, o espetáculo já conquistou 19 prêmios em diversos festivais nacionais.

O Cavalinho Azul
Teatro Paulo Eiró
Av. Adolfo Pinheiro, 765, Santo Amaro - Zona Sul.
Tel.: (11) 5546-0449 e (11) 5686-8440.
 
Shakespeare Amarrotado
Teatro João Caetano
Rua Borges Lagoa, 650, Vila Clementino - Zona Sul.
Tel.: (11) 5573-3774 e (11) 5549-1744.
 
Atenção: os ingressos podem ser adquiridos pela INGRESSO RÁPIDO pelo telefone 4003-2050, site ou, ainda, na bilheteria do próprio local. Apenas para entrega em domicílio será cobrada taxa.

Quando: De 28/5 à 19/6, aos sábados e domingos às 16hs.
 
Investimento: R$ 10 (cada)

Catavento recebe exposição de cartazes do cinema brasileiro. Se você é um dos amantes da 7ª arte, não pode perder!

Postado em por Cooperativa Cultural Brasileira

Macunaíma e O Diabo na Terra do Sol estão entre as obras contempladas pela mostra
 
Entre os dias 7 de maio e 26 de junho, o Catavento Cultural e Educacional (museu de ciência e tecnologia da Secretaria de Estado da Cultura de São Paulo) presta uma homenagem ao cinema nacional. Durante o período, o espaço recebe a exposição “Cartazes do Cinema Brasileiro”. No total são 52 cartazes exibidos no Claustro do Catavento. Artistas renomados como Di Cavalcanti, Ziraldo, Lula Cardoso Alves, Lina Bo Bardi, Caribé e Gomide são alguns dos responsáveis pelos trabalhos exibidos.

Na mostra os visitantes têm a oportunidade de caminhar cronologicamente pela história do cinema nacional, explorando desde cartazes pertencentes à época do cinema mudo aos do século atual. Entre as ilustrações figuram importantes obras como O Pagador de Promessas (1962), Deus e O Diabo na Terra do Sol (1964), Macunaíma (1969), Carandiru (2003) e Tropa de Elite (2007).

“A exposição pretende homenagear o artista anônimo, pois os responsáveis raramente são citados nos créditos ou concedem entrevista”, ressalta o professor Máximo Barro, curador da mostra. “Podemos observar diferentes recursos como a fotografia e a computação gráfica, além de inspiração em artes como o realismo, grafismo, abstração e o psicodélico”, complementa.

Promovido em parceria com a Faculdade Armando Álvares Penteado (FAAP), o projeto tem a curadoria de Máximo Barro (professor de cinema, pesquisador, montador, escritor e contador de histórias) e produção da Gargântua Produções.

Sobre o Catavento

Fruto de uma parceria entre as Secretarias Estaduais da Cultura e da Educação, o Catavento foi inaugurado em março de 2009. O espaço, que apresenta 250 instalações distribuídas em 4 mil metros quadrados, é dividido em quatro seções (Universo, Vida, Engenho e Sociedade). Atrações como aquários de água salgada, anêmonas e peixes carnívoros e venenosos, uma maquete do sol, uma caverna que reproduz as formações e sons originais e uma parede de escaladas onde é possível ouvir histórias de personalidades como Gengis Khan, Julio Cesar e Gandhi, são apenas algumas das atrações em que os visitantes comprovam que é possível aprender e se divertir ao mesmo tempo.

O espaço conta também com novas atrações do Museu da Tecnologia de São Paulo, que recentemente teve seu acervo transferido para o Catavento. No total são 36 equipamentos expostos na área externa do Palácio das Indústrias e em quatro áreas do Catavento (Auditório, Astronomia, Engenho e Educação).

Exposição: Cartazes do Cinema Brasileiro
Onde? Catavento Cultural e Educacional - Claustro.
Quando? 7 de maio a 26 de junho (Catavento fecha às segundas-feiras)
Horário: das 09 às 17hs – bilheteria fecha às 16hs.
Endereço: Palácio das Indústrias – Praça Cívica Ulisses Guimarães, s/n, Centro – São Paulo/SP.
Quanto? R$ 6,00 e meia-entrada para estudantes e idosos (inclui visita pelo Catavento).
Classificação: livre
Como chegar: www.cataventocultural.org.br/mapas.asp
Acesso por transporte público: estação de metrô Pedro II e terminal de ônibus do Parque Dom Pedro II.
Estacionamento: R$ 5,00 (capacidade para 200 carros)
 
Assessoria de Imprensa Catavento
http://bit.ly/kyXcZx

16ª Festa do imigrante em São Paulo

Postado em por Cooperativa Cultural Brasileira

Culinária típica, dança folclórica e artesanatos de diversas comunidades de imigrantes em São Paulo.

A Secretaria de Estado da Cultura realiza nos dias 29 de maio e 5 de junho a 16ª Festa do Imigrante. A tradicional festa reúne culinária típica, dança folclórica e artesanatos de diversas comunidades de imigrantes em São Paulo. Neste ano, a festa acontece no Arsenal da Esperança, prédio histórico do Complexo da Hospedaria dos Imigrantes, onde também funciona o Memorial do Imigrante, atualmente em reforma. A estimativa de público para os dois dias de evento é de 25 mil pessoas.

Assessoria de Imprensa - SEC
http://bit.ly/mAUZaq

Símbolo do contracultura, Bob Dylan completa 70 anos

Postado em por Cooperativa Cultural Brasileira

Bob Dylan, com uma carreira tão produtiva e polêmica como reservada perante a imprensa, completa 70 anos nesta terça-feira considerado por muitos como um autêntico gênio revolucionário.

Batizado como Robert Allen Zimmerman, o artista é um símbolo da contracultura americana desde o início da década de 1960, quando seu repertório como cantor encontrou espaço nas reivindicações de uma sociedade que fervia pela Guerra do Vietnã enquanto se unia na luta pelos direitos civis.

"Não sou um salvador ou um profeta", declarou em 2004 em sua primeira entrevista televisiva em quase 20 anos.

"Minhas canções não são sermões e não considero que haja nada nelas que diga que sou um porta-voz de algo ou de alguém", argumentou, ao tentar diminuir o valor de suas composições míticas como as incendiárias e comprometidas "Like a Rolling Stone", "Blowin' In The Wind" e "The Times They Are A-Changin".

                                                            William Claxton/AP






















Bob Dylan completa 70 anos nesta terça-feira considerado "gênio revolucionário" das últimas cinco décadas

Na sua opinião, tais canções só tentavam modelar a realidade que via passar perante seus olhos como bom artista folk, cujas letras continuam vigentes e passam de geração em geração.

É um dos músicos mais influentes da história, capaz de usar as letras para expiar seus próprios pecados e transformá-los em prosa, seja pela veia pop, rock, country ou folk, enquanto deixa escapar seus lamentos por essa garganta que pode parecer rouca por alguns momentos, mas sempre amaciada por sua inseparável gaita.

Como lembra o museu Grammy, que inaugura nesta semana a exposição "Forever Young" em homenagem ao artista, Dylan conta com 12 prêmios musicais, incluindo dois por Melhor Álbum do ano por sua participação em "The Concert of Bangladesh", em 1972, e por "Time Out Of Mind", em 1997.

Vencedor de um Globo de Ouro e um Oscar em 2001 pela canção "Things Have Changed", escrita para o filme "Garotos Incrível", é membro também do Hall da Fama do Rock'n'roll.

Uma trajetória de ouro para um homem que teve muito claro desde o início que devia sair de Hibbing, em sua fria Minnesota natal, para encontrar a luz nas ruas injetadas de vida do Greenwich Village nova-iorquino, onde achou inspiração na poesia de Dylan Thomas para dar com o nome que lhe acompanharia o resto de sua vida artística.

Seu primeiro disco, "Bob Dylan" (1962), foi seguido por outros como os imprescindíveis "The Freewheelin' Bob Dylan" (1963), "The Times They Are A-Changin" (1964), "Another Side of Bob Dylan" (1964), "Highway 61 Revisited" (1965) e "Blonde on Blonde" (1966), que continham hinos clássicos de protesto político.

Era a primeira fase de sua época mais brilhante, contínua com obras mais líricas e elétricas como "New Morning" (1970), "Pat Garrett & Billy the Kid" (1973), "Desire" (1975) - onde aparecia o inesquecível "Hurricane" - e "Blood on the Tracks" (1975), antes de cair em um buraco criativo especialmente notável na década de 1990, sua pior etapa de vendas.

Dessa queda, partiu para trabalhos tão triunfantes como "Time Out of Mind" (1997) e especialmente, já no novo século, com "Modern Times" (2006).

No total, são 50 anos sobre os palcos, incluindo o que pisou em abril deste ano na China, em uma trajetória brilhante, com exceção de 1966, quando sofreu um grave acidente de moto que o levou a passar mais tempo com sua família.

Dylan se casou em duas ocasiões: em 1965 com Sara Lownds (de quem se divorciou em 1977), com a qual teve quatro filhos (incluindo Jakob, vocalista da banda The Wallflowers), e com Carolynn Dennis em 1986 (se divorciaram seis anos depois), com quem teve mais uma filha.

Sua vida e obra foram muito bem retratadas em suas memórias "Chronicles, Volume One" (2004) e no documentário de Martin Scorsese "No Direction Home" (2005).

por Antonio Martín Guirado
Da Efe em Los Angeles via Folha de São Paulo

Ecad deve ser investigado por duas CPIs

Postado em 23 de maio de 2011 por Cooperativa Cultural Brasileira

A Assembleia Legislativa do Rio vai instalar, na próxima terça-feira, uma CPI para investigar o funcionamento do Escritório Central de Arrecadação e Distribuição (Ecad). A proposta partiu do deputado estadual André Lazaroni (PMDB-RJ).


Em Brasília, o senador Randolfe Rodrigues (PSOL-AP) propôs outra CPI, no Senado, para investigar o Ecad.

André Lazaroni disse que a CPI na Assembleia é uma resposta à sucessão de denúncias que vem recaindo sobre o Ecad, responsável por distribuir direitos de obras musicais a seus compositores.

No último mês, o Ecad foi acusado de pagar R$ 127,8 mil a Milton Coitinho dos Santos, que assinava a autoria de composições. A Folha localizou Coitinho em Bagé (RS). Ele é motorista de ônibus, afirma não tocar "nem gaita" e nunca ter recebido a soma da entidade.

Há, ainda, outras denúncias de fraude, como a de 2004, em que R$ 1.140.198 de crédito retido (dinheiro que deveria ser distribuído igualmente entre todos os compositores) foi transformado em receita do escritório.

Procurada pela Folha, a superintendente do Ecad, Glória Braga, não quis se manifestar sobre as denúncias.

Por meio da assessoria, a entidade declarou que publicará, hoje, uma nota que não só esclareça o caso mas também aponte para os interesses do grupo Globo no Ecad.

O grupo é o principal autor das denúncias, por meio de reportagens de "O Globo". E corre no Superior Tribunal Justiça uma ação movida pela TV Globo contra o Ecad.

A emissora tenta manter o valor mensal pago à entidade (R$3,8 milhões) contra o resjuste para R$ 10,4 milhões exigido pelo Ecad. Em um ano, a TV Globo teria de pagar o equivalente a 27% do total recebido pelo Ecad em 2010 (R$ 433 milhões).

Procurada pela Folha, a TV Globo informou, por meio de sua assessoria de imprensa, que não se posicionará antes de tomar conhecimento do conteúdo da nota do Ecad prevista para hoje.

Lazaroni diz só ter tomado conhecimento da disputa entre Globo e Ecad após a aprovação da CPI. "Soube na quinta-feira passada. E não tenho nada a ver com essa briga. Minha preocupação é em agir de acordo com o interesse dos compositores."

Já o senador Rodrigues diz ter sido procurado pela diretoria do Ecad justamente em função da disputa judicial com a Globo.

"Falei que eles deveriam tornar isso público. Se o artista brasileiro recebe menos por causa da Globo, é um assunto que interessa à CPI.

ENTENDA O CASO

DISTRIBUIÇÃO VEM SENDO CONTESTADA

O Ecad é uma entidade privada responsável por arrecadar dinheiro com emissoras, rádios, bares e espaços públicos com música. Em seguida, o dinheiro é distribuído entre compositores, de acordo com a quantidade de vezes em que suas músicas foram tocadas no ano. Os critérios têm sido contestados.

Fonte: ROBERTO KAZ - Folha de São Paulo

Confiram aqui

Postado em 19 de maio de 2011 por Cooperativa Cultural Brasileira

São Paulo à la carte - Luiz Felipe Pondé
Fórum apresenta Plano de Manejo da APA Várzea do Tietê
Obras de Paulo Werneck expostas na Pinacoteca de São Paulo
Bolsa Universidade abre inscrições para instituições de ensino superior em todo o Estado de São Paulo
Rainha Silvia investiga passado nazista de seu pai
Diretor dinamarquês Lars Von Trier é expulso de Cannes
Politicamente fascista - Marcelo Coelho
Pequeno ensaio sobre a devastação - Luiz Felipe Pondé
Raciocínios "motivados" - Contardo Caligaris
Semana Nacional de Museus leva atividades gratuitas a 150 locais
Djavan faz dois shows em São Paulo; ingressos estão em pré-venda
Protesto de moradores barra carga de urânio em Caetité (BA)

São Paulo à la carte*

Postado em por Cooperativa Cultural Brasileira


por Luiz Felipe Pondé
filósofo, escritor e docente da PUC-SP e da FAAP

Quem diz amar a humanidade geralmente detesta seu semelhante
Você sabe o que é a tradição política conhecida no mundo anglo-saxão como "conservative"? No Brasil é quase inexistente. Entre nós, o termo é comumente utilizado para designar (de modo retórico) "pessoas más contra a democracia". Mentira. Conservadores são pessoas desconfiadas que não gostam de fórmulas políticas de redenção.

Por exemplo, eu desconfio de quem diz que ama a humanidade. Normalmente quem ama a humanidade detesta seu semelhante. Comumente pensa que seria melhor que seu semelhante deixasse de existir para, em seu lugar, "nascer" aquele tipo de gente que o amante da humanidade acha ideal. Prefiro pessoas que são indiferentes à humanidade, mas que pagam salários em dia.

O crítico da revolução francesa, o britânico Edmund Burke (século 18) usa esta mesma frase: "Loves mankind, hates his kindred" ("ama a humanidade, detesta seu semelhante") para gente como Rousseau (século 18), mentor espiritual da chacina que foi a Revolução Francesa. Proponho a leitura das suas "Considerações sobre a Revolução na França", pedra filosofal da tradição "conservative", ao lado de "Democracia na América" de Tocqueville (século 19).

Hoje, na América Latina, a onda fascista cresce travestida de "justiça social", e por isso sou obrigado a falar de política, caso contrário acabarei caindo na condição de "idiota" no sentido grego antigo: alguém que não participa da política e os outros participam no lugar dele.

Sou pessimista com nosso futuro político imediato: a elite deste país "brinca" com o fascismo de esquerda que se delineia no horizonte. Talvez ela acabe na mesma condição da aristocracia alemã e italiana que achava que podia "brincar" com os fascistas de então, e acabou na condição de cúmplice de um massacre.

Qualquer um que conheça a tradição "conservative" sabe que ela é múltipla e heterogênea. Nasce no século 18 como uma reação à agressão da ganância jacobina. Trata-se de uma sensibilidade política de trincheira. Defende-se, entre outras coisas, da mentira que é a crença em se transformar o mundo a partir de "closet theories" (teorias de gabinete), termo de Burke. O conservador reage a essas teorias não porque seja contra diminuir o sofrimento no mundo, mas apenas porque é inteligente o bastante para perceber o estelionato político dos que se dizem amantes da humanidade. Vejamos um exemplo.

Nos últimos anos um "novo" marxismo surgiu na Europa, uma salada mista de marxismo e Lacan. Nomes como Alain Badiou e Slavoj Zizek são as estrelas dessa nova seita fundamentalista, cozida entre consultórios lacanianos e cafés parisienses. Lacan aqui deve servir pra dar um toque "chique" a uma tradição violenta e banal que matou mais gente do que o próprio Hitler: Lênin, Stálin, Mao e Pol Pot.

Nossos gurus fazem uma leitura infame de São Paulo, fundador do cristianismo, em chave fanático-religiosa, como modelo a ser seguido no combate ao humanismo relaxado da sociedade liberal pós-moderna. Para eles, Paulo seria um exemplo ideal do protorrevolucionário marxista que passou por uma "transformação interior" e descobriu a "verdade" e a levou às últimas consequências. Socorro!

Os gurus, em seus gabinetes chiques, chegam a descrever o amor como "busca da verdade", passo necessário para uma nova "gramática do desejo". Uma "nova política" criada por seres com "gramáticas eróticas libertárias". Puro papo furado para crentes.

Amor não é uma experiência política, nem gramatical, mas afetiva e moral. Não quero que me ensinem a amar da forma correta. Ninguém ama corretamente nem politicamente. Amor é sempre errado.

Quando a política se "finge" amorosa é para matar o homem real em nome do amor por uma ideia de homem.

Pensar em se "reordenar politicamente a libido", coisa típica dessa seita, é um delírio que autoriza a repressão do desejo concreto em nome de um desejo abstrato, este, claro, definido no gabinete chique do guru. No fundo a seita quer que os homens reais deixem de existir para dar lugar aos homens com "libido politicamente reordenada".

Quem seriam eles? Provavelmente os gurus e seus discípulos, como sempre.

ponde.folha@uol.com.br

*O texto foi publicado originalmente em 06/09/2010 no caderno Ilustrada da Folha de São Paulo. Seção do jornal em que o autor escreve uma coluna às segundas-feiras.

Fórum apresenta Plano de Manejo da APA Várzea do Tietê

Postado em por Cooperativa Cultural Brasileira

A 1ª etapa do Plano de Manejo mostra o diagnóstico socioambiental da Área de Proteção Ambiental

A Fundação Florestal, a Escola de Artes, Ciência e Humanidades da Universidade de São Paulo - EACH/USP - e o Conselho Gestor da Área de Proteção Ambiental vão apresentar dia 26.05, no 1º Fórum da APA Várzea do Rio Tietê, o Diagnóstico Socioambiental resultado da primeira Etapa do Plano de Manejo da APA.

O evento será realizado às 9h no auditório azul da EACH/USP, situado na Avenida Arlindo Béttio, 1000 - Ermelino Matarazzo - São Paulo/SP - e vai apresentar a todos os atores do poder público e da sociedade civil o diagnóstico socioambiental da APA Várzea do Rio Tietê, a fim de promover reflexões e estimular o debate acerca dos resultados das questões levantadas nas oficinas de diagnóstico. Acompanhe a programação.

Inscrição gratuitas no blog da APA Várzea do Tietê: apavarzeadotiete.blogspot.com.

A Fundação Florestal - órgão vinculado a Secretaria Estadual do Meio Ambiente que é responsável pela gestão das Unidades de Conservação (UCs) de São Paulo - iniciou a elaboração do Plano de Manejo da Área de Proteção Ambiental (APA) Várzea do Rio Tietê em dezembro de 2010, por meio de parceria com a USP Escola de Artes, Ciências e Humanidades (EACH).

O Plano de Manejo fará a revisão do zoneamento ambiental da APA Várzea do Rio Tietê, a consolidação, discussão e o georreferenciamento de seus limites, bem como a elaboração dos programas de gestão, de desenvolvimento sustentável e sustentabilidade socioterritorial e de conservação.

Serviço:

Data: 26.05.2011
Horário: 09hs
Local: Auditório Azul da Escola de Artes, Ciências e Humanidades (EACH/USP). Rua Arlindo Bettio, 1000 – Ermelino Matarazzo.

http://bit.ly/mkUyQe

Obras de Paulo Werneck expostas na Pinacoteca de São Paulo

Postado em por Cooperativa Cultural Brasileira

A Pinacoteca do Estado de São Paulo apresenta exposição Paulo Werneck – Muralista.

Brasileiro com 110 projetos para painéis, guache sobre papel, 25 fotografias, documentos e ilustrações para jornais e livros infanto- juvenis realizados pelo artista entre os anos 1930 e 1970. Também serão exibidos os vídeos P.W: Pincéis e Painéis, realizado pela vídeo-artista Vivian Ostrovsky, e Paulo Werneck – arte e raiz dirigido pela documentarista Paula Saldanha onde são apresentados depoimentos sobre a obra do artista. Paulo Werneck (Rio de Janeiro, RJ, 1907 - 1987) começou sua carreira no final da década de 20 ilustrando jornais e livros infanto-juvenis. Aos poucos, tornou-se colaborador de importantes arquitetos, primeiro como desenhista técnico e depois como muralista.


A exposição apresentada na Pinacoteca do Estado propõe uma leitura inédita sobre a arquitetura moderna do Brasil, por meio dos murais para fachadas e interiores assinados pelo artista. Entre os projetos apresentados na mostra estão sete painéis para o terraço do Instituto de Resseguros do Brasil, 1942, localizado no Rio de janeiro; os painéis laterais da Igreja São Francisco de Assis, 1943, na Pampulha (MG); uma série de trabalhos realizada na cidade de Brasília, entre outros. “Paulo Werneck sempre considerou seu trabalho um complemento da arquitetura, além de um bem público. A forma como ele trabalhou suas composições são surpresas estimulantes à nossa imaginação e merecem um olhar mais atento, com o devido distanciamento que o tempo nos dá”, destaca o curador Carlos Martins.


Esta exposição é um dos primeiros resultados do Projeto Paulo Werneck que tem por objetivo preservar, catalogar e divulgar a obra do artista que marcou a paisagem arquitetônica brasileira com centenas de murais. É uma iniciativa da família do artista que, desde 2004, trabalha em ações de resgate da importância de sua contribuição para a história da arquitetura e das artes plásticas brasileiras. “Abrir gavetas e pastas com desenhos originais, documentos, cartas e fotografias é quase sempre uma atividade que gera muitas surpresas. E neste caso as descobertas foram inúmeras. Não apenas com relação à datação de algumas obras importantes da história recente da arquitetura no Brasil, mas, principalmente, no que diz respeito à atuação de Paulo Werneck em um momento singular de construção de uma nova sociedade moderna nos trópicos”, afirma Claudia Saldanha, curadora e neta do artista.

Sobre o artista

Paulo Werneck (Rio de Janeiro, RJ, 1907 - 1987), foi pintor, desenhista e ilustrador de livros infantis e colunas políticas de diversos jornais. Autodidata, Werneck introduziu no Brasil a técnica do mosaico. Contribuiu com seus murais para projetos de arquitetos como Oscar Niemeyer e também Marcelo, Milton e Maurício Roberto, Afonso Eduardo Reidy, Marcelo Campelo, Rubem Serra, Firmino Saldanha. Fez seus primeiros painéis em mosaico no terraçojardim do Instituto Resseguros, projeto dos arquitetos Marcelo e Milton Roberto.


Como ilustrador Paulo Werneck publicou duas lendas brasileiras – O Negrinho do Pastoreio (1939) e A Lenda da Carnaubeira (1940). Esta última foi também publicada nos Estados Unidos. Durante a década de 70, recebeu uma seqüência de convites de agências do Banco do Brasil que o levou a percorrer o país instalando seus painéis e a aprofundar sua pesquisa com mosaico e materiais diversos como madeira, poliéster, vidro e fórmica. Após sua morte em 1987, o acervo de projetos, desenhos, fotografias e documentos permaneceu intacto, em posse da família e atualmente está sendo recuperado e catalogado.

Exposição Paulo Werneck – Muralista Brasileiro
21/5 até 17/7
Pinacoteca do Estado
Praça da luz, 02
Tel. (11) 3324-1000
Aberta de terça a domingo, das 10 às 18hs
R$ 6,00 e R$ 3,00 (meia)
Grátis aos sábados

Fonte: Assessoria de Imprensa Pinacoteca
Data: 17/05/2011

http://bit.ly/kAiGLy

Bolsa Universidade abre inscrições para instituições de ensino superior em todo o Estado de São Paulo

Postado em por Cooperativa Cultural Brasileira

Universidades particulares interessadas em se cadastrar devem enviar documentação até o dia 31 de maio

Projeto oferece bolsa integral para universitários atuarem nos finais de semana como educadores em escolas públicas que participam do programa Escola da Família

Estão abertas as inscrições para instituições de ensino superior particulares interessadas em firmar convênio com a Secretaria de Estado da Educação para participar do projeto Bolsa Universidade, no segundo semestre deste ano. O projeto oferece bolsa integral para universitários atuarem nos finais de semana como educadores em escolas públicas que integram o programa Escola da Família.

Para se cadastrar, as instituições devem consultar o site do programa (http://escoladafamilia.fde.sp.gov.br/) e enviar a documentação requerida para a Fundação para o Desenvolvimento da Educação (FDE), na avenida São Luís, 99, 15º andar, centro, São Paulo, CEP 01046-001. Os documentos também podem ser entregues pessoalmente, de segunda a sexta-feira, das 8h30 às 17h. O prazo vai até 31 de maio.

A proposta do projeto é contribuir para o enriquecimento da formação universitária do estudante, que atuará como educador nas unidades do Escola da Família, auxiliando no desenvolvimento das atividades previstas pelo programa. Em contrapartida, ele receberá bolsa integral de seu curso, custeada pela Secretaria, que arca com o valor proporcional a 50% da mensalidade, desde que ultrapasse o teto de R$ 267, e pela instituição de ensino, que completa o restante do valor.

Sobre o programa Escola da Família
Desde 2003, o Escola da Família aproxima sociedade e escola promovendo a integração de estudantes, crianças, jovens, adultos e idosos com um trabalho que sociabiliza, diverte e educa a população. Por meio do programa, as unidades escolares da rede pública de São Paulo são abertas aos sábados e domingos à comunidade local, para realização de atividades voltadas ao esporte, à cultura, à saúde e ao trabalho (que são os quatro eixos do programa).

As atividades são promovidas com o auxílio de profissionais da Educação, voluntários e educadores universitários e visam à inclusão social, tendo como foco o respeito à pluralidade e uma política de prevenção que concorra para uma qualidade de vida cada vez melhor.

Rainha Silvia investiga passado nazista de seu pai no Brasil

Postado em por Cooperativa Cultural Brasileira

A rainha Silvia da Suécia pediu uma investigação sobre os supostos laços nazistas de seu pai, no período em que ele viveu na Alemanha e no Brasil, nos anos 30 e 40.

Em um comunicado oficial, a Corte Real Sueca afirmou que "a rainha, juntamente com a família Sommerlath, tomou a iniciativa de levantar fatos a respeito das atividades de Walter Sommerlath no Brasil e na Alemanha entre 1930 e 1940".


                                                                                           Sebastião Moreira-25.mar.2010/Efe
      Rainha Silvia da Suécia durante visita ao Brasil; ela pediu
      investigação sobre passado nazista de seu pai


A decisão veio após duras críticas na Suécia a comentários feitos pela rainha a repórteres, sobre o que ela acreditava ser o passado de seu pai.

Ela sabia que seu pai era filiado ao Partido Nazista alemão, mas disse que ele "não era politicamente ativo" e tinha sido forçado a se associar ao partido para salvar sua carreira. "(O nazismo) era uma máquina, se você protestava, estaria lutando contra toda uma máquina", disse ela.

Sobre o retorno de seu pai à Alemanha em pleno auge do nazismo, ela disse: "Você precisa se colocar na psicologia da época. A Alemanha estava se levantando das cinzas. A alegria em notar que a terra-mãe estava lá novamente de repente, convenceu meu pai a apoiar a Alemanha e a ingressar no partido".

Analistas ouvidos pela imprensa sueca lembraram que essa linha de argumento foi usada por vários nazistas julgados por crimes de guerra.

Em resposta, a rainha decidiu pela investigação, que está sendo conduzida por historiadores.

FÁBRICA

Sílvia Renate Sommerlath nasceu na Alemanha, em 1943, e é filha do empresário alemão Walther Sommerlath e da brasileira Alice Soares de Toledo.

Pouco após o final da Segunda Guerra, em 1947, sua família se mudou para o Brasil pela segunda vez e viveu em São Paulo até 1957, retornado depois à Alemanha.

O empresário Walter Sommerlath deixou a Alemanha em 1919 rumo ao Brasil. Em São Paulo, ele casou-se com Alice.

Um ano após a ascensão de Adolf Hitler ao poder na Alemanha, em 1934, ingressou no Partido Nazista, ainda enquanto vivia no Brasil, onde administrava a subsidiária alemã de uma siderúrgica.

Ele retornou à Alemanha com a sua família em 1938. Ali, ele teria, em 1939, segundo denúncia feita no programa da TV sueca "Kalla Fakta", assumido o controle de uma fábrica cujo proprietário anterior era judeu, como parte do programa de "arianização" dos nazistas.

De acordo com o programa, a fábrica produzia peças para tanques alemães e foguetes anti-aéreos. A rainha Silvia disse acreditar que os itens produzidos eram trens de brinquedo, secadores de cabelo e filtros para máscaras de gás.

Silvia Somerlath conheceu seu marido, o então futuro rei da Suécia, Carl 16 Gustaf, durante os Jogos Olímpicos de Munique, em 1972, quando ela estava trabalhando como intérprete.

Seu pai esteve presente ao seu casamento, em 1976, mas a família não revelou, na ocasião, as conexões dele com o nazismo.

O passado nazista de Walter Sommerlath só veio à tona mais de dez anos após o ano de sua morte, em 1990, quando a imprensa sueca publicou os primeiros relatos sobre o tema, em 2002.

BBC - Brasil via Folha de São Paulo
http://bit.ly/mkonOK

Diretor dinamarquês Lars Von Trier é expulso de Cannes

Postado em por Cooperativa Cultural Brasileira

O diretor dinamarquês Lars Von Trier foi expulso do Festival de Cannes nesta quinta-feira depois de comentários feitos durante uma coletiva de imprensa, aparentemente de brincadeira, em que declarava ser um nazista e um simpatizante de Hitler.

"O conselho dirigente do festival... lamenta profundamente que o evento tenha sido usado por Lars Von Trier para expressar comentários que são inaceitáveis, intoleráveis, e contrários aos ideais de humanidade e generosidade que presidem sobre a existência do festival", disse o festival em comunicado.

"O conselho dirigente condena esses comentários e declara Lars Von Trier como uma pessoa não bem-vinda no Festival de Cannes, com efeito imediato."

                                                                                                                                                                         Eric Gaillard/Reuters
O cineasta Lars Von Trier exibe tatuagem no Festival de Cannes

por Mike Collett-White
Da Reuters, em Cannes

http://bit.ly/iKECut

Politicamente fascista*

Postado em por Cooperativa Cultural Brasileira

por Marcelo Coelho
cientista social, escritor e membro do conselho editoral da Folha de São Paulo

O comediante Danilo Gentili pediu desculpas pela piada antissemita que divulgou no Twitter. A saber, a de que os velhos de Higienópolis temem o metrô no bairro porque "a última vez que eles chegaram perto de um vagão foram parar em Auschwitz".

Aceitar suas desculpas pode ser fácil ou difícil, conforme a disposição de cada um. O difícil é imaginar que, com isso, ele venha a dizer menos cretinices no futuro.

Não aguentei mais do que alguns minutos do programa "CQC", na TV Bandeirantes, do qual é ele uma das estrelas mais festejadas. Mas há um vídeo no YouTube, reproduzindo uma apresentação em Brasília do seu show "Politicamente Incorreto", em outubro de 2010.

Dá para desculpar muita coisa, mas não a falta de graça. O nome oficial do Palácio do Planalto é Palácio dos Despachos, diz ele. "Deve ser por isso que tem tanto encosto lá." Quem o construiu foi Oscar Niemeyer, continua o humorista. E construiu muitas outras coisas, como as pirâmides do Egito.

A plateia tenta rir, mas só fica feliz mesmo quando ouve que Lula é cachaceiro, ou que (rá, rá) o nome real de Sarney é Ribamar. Prossegue citando os políticos que Sarney apoiou; encerra a lista dizendo que ele só não apoiou o próprio câncer porque "o câncer era benigno".

Os aplausos e risadas, pode-se acreditar, vêm menos da qualidade das piadas e mais da vontade de manifestação política do público. Detestam-se, com razão, os abusos dos congressistas brasileiros. Só por isso, imagino, alguém ri quando Gentili diz preferir que a capital do país ficasse no Rio: "Lá pelo menos tem bala perdida para acertar deputado".

Melhor parar antes que eu fique sem respiração de tanto rir. Como se vê, em todo caso, o título do show não é bem o que parece. "Politicamente incorreto", no caso, faz referência às coisas erradas feitas pelos políticos, mais do que ao que há de chocante em piadas sobre negros ou homossexuais.

A questão é que o rótulo vende. Ser "politicamente incorreto", no Brasil de hoje, é motivo de orgulho. Todo pateta com pretensões à originalidade e à ironia toma a iniciativa de se dizer "incorreto" --e com isso se vê autorizado a abrir seu destampatório contra as mulheres, os gays, os negros, os índios e quem mais ele conseguir.

Não nego que o "politicamente correto", em suas versões mais extremadas, seja uma interdição ao pensamento, uma polícia ideológica.

Mas o "politicamente incorreto", em sua suposta heresia, na maior parte das vezes não passa de banalidade e estupidez.

Reproduz preconceitos antiquíssimos como se fossem novidades cintilantes. "Mulheres são burras!" "Ser contra a guerra é viadagem!" "Polícia tem de dar porrada!" "Bolsa Família serve para engordar vagabundo!" "Nordestino é atrasado!" "Criança só endireita no couro!"

Diz ou escreve tudo isso, e não disfarça um sorrisinho: "Viram como sou inteligente?".

"Como sou verdadeiro?" "Como sou corajoso?" "Como sou trágico?" "Como sou politicamente incorreto?"

O problema é que "politicamente incorreto", na verdade, é um rótulo enganoso. Quem diz essas coisas não é, para falar com todas as letras, "politicamente incorreto". Quem diz essas coisas é politicamente fascista.

Só que a palavra "fascista", hoje em dia, virou um termo... politicamente incorreto. Chegamos a um paradoxo, a uma contradição.

O rótulo "politicamente incorreto" acaba sendo uma forma eufemística, bem-educada e aceitável (isto é, "politicamente correta") de se dizer reacionário, direitista, fascistoide.

A babaquice, claro, não é monopólio da direita nem da esquerda. Foi a partir de uma perspectiva "de esquerda" que Danilo Gentili resolveu criticar "os velhos de Higienópolis" que não querem metrô perto de casa.

Uma ou outra manifestação de preconceito contra "gente diferenciada", destacada no jornal, alimentou a fantasia mais cara à elite brasileira: a de que "elite" são os outros, não nós mesmos. Para limpar a própria imagem, nada melhor do que culpar nossos vizinhos.

Os vizinhos judeus, por exemplo. É este um dos mecanismos, e não o vagão de um metrô, que ajudam a levar até Auschwitz.


*O texto foi publicado originalmente em 18/05/2011 no caderno Ilustrada da Folha de São Paulo. Seção do jornal em que o autor escreve uma coluna às quartas-feiras.
http://bit.ly/jJtMUT

Pequeno ensaio sobre a devastação*

Postado em 17 de maio de 2011 por Cooperativa Cultural Brasileira

por Luiz Felipe Pondé
filósofo, escritor e docente da PUC-SP e da FAAP

Neste pequeno ensaio pretendo dar uma versão, muito pessoal, do meu encontro com o pensamento conservador na minha experiência de formação.

Mas, antes de mais nada, o que é formação?

Entendo formação, sobretudo, como a preparação para o enfrentamento da condição humana em si mesma. Portanto, o próprio conceito de condição humana é princípio organizador da idéia de formação. Formar-se é encontrar a humanidade em nossa alma: coração e intelecto em agonia reparadora, como diriam muitos pensadores cristãos ortodoxos antigos.


A formação não é o foco principal da educação no mundo contemporâneo, o que é uma pena.

Infelizmente, grande parte da vida acadêmica contemporânea sucumbiu ao medo e à preguiça, a ponto de poder dizer que hoje a educação é um misto de preguiça, oportunismo e medo. Na realidade, uma das idéias que têm dominado meu pensamento é que o medo tornou-se parte essencial da vida de quem se dedica a atividades de formação.

Certa feita, na faculdade de medicina, perguntei ao professor como um paciente portador de câncer terminal se via diante da possibilidade de estar indo em direção ao Nada. O professor foi taxativo: “O senhor está na aula errada, devia fazer filosofia”. Boa época aquela, em que professores não tinham medo dos alunos nem se preocupavam com teorias pedagógicas.

Hoje, já não acho que meu professor estivesse tão certo. A formação em medicina é uma boa chance de você se medir com essa emoção essencial da vida, o medo, enquanto as ciências humanas podem facilmente cultivar a covardia travestida de grandes e vazias aventuras teóricas sem carne ou sangue – e por isso mesmo sem riscos de se sujar com a vida, que está sempre imersa em carne e sangue. Tenho certeza de que grande parte do que penso hoje como filósofo é devida aos cadáveres que abri durante a noite, aos cérebros que espalhei sobre a mesa de metal, às pessoas que morreram pelas mãos de minha ignorância, e à estranha sensação de que algo de misterioso faz a ponte entre a matéria, sempre fracassada, espalhada sobre o metal, e a alma, sempre em espanto.

Vejo o advento da modernidade como se tivéssemos entrado no grande delírio da denegação, da denegação do mal – como os freudianos dizem –, de um modo cultural e universal. Isso criou uma espécie de fúria do homem moderno em se auto-afirmar como centro do universo, uma negação da sua condição.

Mas a formação que daí resultou – grosso modo dos jacobinos para cá – trouxe consigo um esgotamento dos instrumentos intelectuais para compreender o mundo. Simplesmente não tem mais elementos para lidar com o mundo tal como ele se apresenta. E o esforço para lidar com ele, a partir das categorias que temos à mão, é excessivo; por isso, o retorno, a reação perante todas as idéias que não estão alinhadas com esse pensamento, é violento, grosseiro.

Essa dialética sempre me chamou atenção. Eu tinha já uma percepção muito concreta do mal, apesar de não conseguir falar disso, quando estava na faculdade de medicina. Porque, antes de fazer filosofia, fiz medicina; depois, entre uma e outra, ainda quis fazer formação em psicanálise, pensando em salvar a carreira médica, mas depois mudei de idéia.

Quem fez essa passagem para mim foi Pascal. Fui fazer o doutorado em Paris – vinha de cinco anos de estudo, e queria escrever a tese sobre a concepção trágica do ser humano de Freud –, e quando cheguei ali meu orientador foi atropelado por um caminhão na A1 e morreu. Furou um pneu, ele parou no acostamento, abriu a porta, um caminhão passou e o levou. Como se diz em francês, ficamos todos “catastrofados”…

Fiquei órfão de orientador, na primeira semana de doutorado em Paris! E isso criou um vácuo em que comecei a ler outros autores que trabalhavam uma visão trágica. Comecei a ler Pascal, e não parei mais.

Em algum momento em que eu estava trabalhando com ele, alguma coisa começou a virar. Isso mudou completamente a minha forma de ver o mundo; não que tenha perdido de forma alguma a minha herança anterior, científica e biológica – tanto assim que continua presente no meu trabalho –, mas me levou às minhas reflexões atuais.

Devastação e ceticismo

E o que ficou do médico em mim, afinal? A consciência de um fracasso fisiológico essencial como condição humana. Esta experiência de fracasso é minha ontologia do humano.

E por que o medo? Porque conhecer é correr o risco de visitar mundos devastados. Visitar mundos devastados é contemplar a fronteira do sentido das coisas. O ceticismo (a dura suspeita da existência desse fracasso no plano do conhecimento) tem sido evidentemente uma ferramenta essencial.

Ceticismo, para mim, é a vigília contínua sobre este mundo em pedaços. Contra o domínio das teorias abstratas, escolho o risco da vida autoral. A coragem é virtude essencial quando se contempla a devastação.





Qual a relação entre este sentimento de devastação e o encontro com a tradição conservadora? A experiência humana fala de uma ontologia frágil; por isso, antes de tudo, devemos ter cuidado ao lidar com esta fragilidade.

Segundo a fortuna crítica [1], o pensamento conservador tem três grandes raízes, o ceticismo de David Hume (seu “Iluminismo às avessas”), em meados do século XVIII; a crítica de Edmund Burke à Revolução Francesa no final do mesmo século; e a viagem de Alexis de Tocqueville aos Estados Unidos (laboratório da democracia moderna nascente) na primeira metade do século XIX –

mesmo que nenhum dos três autores tenha usado especificamente o termo “conservador” em suas obras. Há controvérsias quanto ao estabelecimento destas origens, mas não vou me ater a elas porque não ferem o conteúdo deste pequeno ensaio.

Segundo Russel Kirk, os termos “conservatif” ou “conservative” [2] surgem na França nos primeiros anos do século XIX para se referir àqueles que se opunham à “era napoleônica” e à sua herança revolucionária. Grosso modo, o ethos da atitude conservadora era preservar as instituições políticas, sociais e morais que estavam no alvo dos desdobramentos de 1789. No limite, tratava-se de combater a dissolução das instituições e dos comportamentos ancestralmente cultivados.

Vemos, portanto, que o foco era uma defesa da sociedade em face da devastação em processo. Reencontramos assim, a oposição entre devastação e conservação a que fiz referência acima.

Este ethos me pareceu significativo [3]. A relação histórico-filosófica entre ceticismo e importância da ancestralidade data da Grécia [4]:

diante da dúvida acerca da operacionalidade da Razão [5], hábitos e costumes se revelam como opção contra o erro. Hábitos e costumes são comportamentos e instituições de razoável sucesso diante das pressões sofridas pela humanidade em sua agonia ancestral.

No restante deste pequeno ensaio, discutirei introdutoriamente alguns traços do que seria um “espírito conservador” ou mesmo uma atitude, ou sensibilidade, ou caráter conservador. Para tal, dialogarei com Russel Kirk em seu The Conservative Mind. Pessoalmente, gosto cada vez mais da idéia de um temperamento conservador [6].

Ao contrário de grande parte das pessoas que se aproximam da tradição conservadora, o que me levou à leitura e ao confronto com esta tradição (ou pelo menos com uma parte significativa dela) não foi qualquer sentimento religioso (apesar de tê-lo), mas sim minha experiência cética. Se não conseguimos justificar racionalmente o mundo (nem moral nem epistemologicamente) e incorremos facilmente em abstrações, como não nos destruímos ainda?

O “temperamento conservador”

1. Os problemas humanos são essencialmente morais e religiosos e não políticos, como pensa a tradição moderna de raiz iluminista francesa. Quando tentamos “resolver” a vida politicamente, incorremos facilmente em simplificações da realidade. A política é bem-vinda quando se apóia nos hábitos e não quando inventa soluções para a vida humana.

No fundo, somos seres atormentados pela falta essencial de sentido das coisas. Esta marca é moral e religiosa, não política. Suspeito que forças maiores do que nosso entendimento seja capaz de compreender marcam nosso destino. Todavia, esta suspeita se materializa muito mais, para mim, na adesão a hábitos que as supõem e as respeitam, do que a rituais que imaginam acessá-las ou abstrações racionais que visam a dissolvê-las.

2. Acredito profundamente na máxima “radicais amam a humanidade e detestam seus semelhantes”. Isso porque esses radicais se relacionam com uma idéia do humano que responde à homogeneidade de uma abstração lógica (suas abstrações de gabinete).

Ao mesmo tempo, tenho uma atração natural (sem sustentá-la em nada que postule uma “dignidade intrínseca do ser humano”) pelos seres humanos reais e sua rica e intratável heterogeneidade. A própria possibilidade de podermos estabelecer uma “lógica definitiva” do ser humano, me tornaria profundamente desinteressado pelos meus semelhantes. Relaciono esta variedade, como diz Kirk, com um certo mistério que perpassa esta multiplicidade.

3. Os seres humanos não são iguais; uns poucos são melhores do que os outros. Estas diferenças demandam tempo pra se revelar, mas são essenciais. A insistência em negar este fato (igualitarianismo) fere a relação entre as pessoas e a organização da vida.

4. Não existe “a liberdade” como idéia, mas apenas formas materiais que evitam a violência de uns sobre os outros. Homens não são ovelhas. No seu limite mínimo, a propriedade privada marca esta materialidade da liberdade possível; por isso, a tentativa de igualdade abstrata fere a defesa concreta contra a violência que visa a destruir a propriedade privada.

5. A famosa frase de Burke sobre a desconfiança para com “sofistas, calculadores e economistas” resume a dúvida conservadora contra designs abstratos da sociedade. Aqui a relação entre dúvida e hábito se revela na sua face mais evidente: engenharias (sofistas, calculadas ou econômicas) sempre põem em risco esse equilíbrio frágil da vida no tempo e no espaço duramente compartilhado. Se duvido dessas engenharias, por conseqüência duvido das mudanças calculadas por elas.

Em conseqüência…

6. Duvido da possibilidade de fabricarmos novos homens pela educação, legislação ou engenharias culturais de qualquer tipo. O homem não é passível de perfectibilidade projetada e acumulativa; daí a recusa da noção de “meliorismo” por parte dos conservadores.

7. Prefiro o conhecimento ancestral às “novidades da Razão”. Radicais desprezam a tradição, optam pelo império do racionalismo. O racionalismo desvaloriza o hábito ancestral em nome de sua força de cálculo. Neste sentido, a religião é preservada contra a sua crítica apressada.

8. A democracia direta é um risco e leva a fúria da sem-razão, travestida de “political levelling”, “nivelamento político”, para o interior do tecido cotidiano.

9. A idéia de justiça social, atacada também por David Hume, é um risco na medida em que dissolve a fronteira entre a violência da liberdade abstrata e o cuidado com esta violência presente na defesa irrestrita da propriedade privada.

10. Por último – resumo da posição burkeana e central para a definição de Kirk –, a sociedade é uma comunidade de alma que reúne os mortos, os vivos e os que ainda não nasceram.

Os mortos são nossa sabedoria ancestral viva na memória e nos hábitos. Os vivos são o presente; diante da insegurança estrutural de nossa Razão, são responsáveis por legar aos ainda não nascidos o cuidado com a vida da humanidade, sob a ameaça ancestral de nossa ontologia do fracasso.
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[1] Muller, J. Z. Conservatism, an Anthology of Social and Political Thought from David Hume to the Present (Princeton University Press, Princeton. 1997). Kirk, R. The Conservative Mind, from Burke to Eliot (Regnery Publishing, Inc., Washington DC. 2001). Id. The Conservative Reader (The Viking Portable Library, New York. 1982).

[2] Kirk, R. Edmund Burke, a Genius Reconsidered (Intercollegiate Studies Institute, Wilmington, 1997).

[3] A dúvida sistemática com relação ao alcance da Razão, marca do ceticismo filosófico, lega um sentimento de grande risco com relação aos malabarismos racionais diante da realidade. A dúvida conservadora de Burke com relação às engenharias sociais herdadas do jacobinismo se aproxima muito desta intuição cética. Ambas tendem a ser econômicas no que se refere à confiança nos produtos concretos destas engenharias (produtos da Razão que pretende moldar o mundo).

[4] Hankinson, R.J. The Sceptics (Routledge, London. 1995).

[5] É importante lembrar, contra o senso comum corrente, que o ceticismo filosófico desde a Grécia, passando por autores como Montaigne (séc. XVI), Pascal (séc. XVII) – naquilo em que ele “usa” o ceticismo -, Hume (séc. XVIII) e Oakeshott (já no século XX), atacam a validade da Razão, e não a validade de crenças ditas “religiosas”. Não porque essas devam ser preservadas, mas porque simplesmente são “fáceis” de ser atacadas (objeto de fé apenas), enquanto a Razão, sim, demonstra sua arrogância dogmática travestida de evidência universal. Por isso é tão comum, como por exemplo em Montaigne e Pascal, o convívio, até certo ponto, entre fé e ceticismo. Em Hume ou Oakeshott (para referências, ver nota 1), a fé está contida no hábito que conduz a vida para fora dos dogmas da Razão frágil. Em Burke, a fé se inscreve na validade da aceitação de uma dimensão de mistério na condução da história (Providência divina opaca à Razão de ethos jacobino).

[6] Não vou aqui citar o texto de Russel Kirk propriamente dito. Remeto o leitor para o The Conservative Mind (para referências, ver nota 1), págs. 8 a 10.

* Publicado na revista Dicta & Contradicta, nº 4.
http://bit.ly/dKgW45



























Raciocínios "motivados"*

Postado em por Cooperativa Cultural Brasileira

por Contardo Caligaris
psicanalista e doutor em psicologia clínica

Qual deveria ser a função principal dos auxiliares de nossos representantes eleitos?  


É BANAL reconhecer que mesmo nossos pensamentos mais racionais são parasitados por afetos e emoções. Ou seja, uma boa parte de nossos raciocínios são, de fato, "wishful thinking", meditações motivadas pelo desejo.

Em 2002, aliás, um psicólogo, Daniel Kahneman, ganhou o Prêmio Nobel de Economia por trabalhos que mostram como os agentes econômicos (investidores, consumidores etc.) acreditam obedecer, em suas escolhas, a critérios racionais (utilidade, lucro, interesse), mas, de fato, são levados por emoções que eles desconhecem e que os impedem de calcular corretamente os riscos de seus atos.

Outros pesquisadores chegaram mil vezes a conclusões parecidas analisando pensamentos políticos, nos quais a racionalidade é seriamente ameaçada por afetos e emoções. Isso, claro, sem que o sujeito pensante se dê conta da interferência.

Recentemente, o "Journal of Cognitive Neuroscience" (revista de neurociência cognitiva, 18:11, 2006) publicou uma pesquisa, de Drew Westen e outros, que, pela primeira vez, comprova "materialmente" o peso das motivações afetivas e emocionais em nossos pensamentos.

Os sujeitos da amostra deviam julgar, por exemplo, uma explicação fornecida por um político. Enquanto decidiam se a explicação lhes parecia plausível ou não, seu funcionamento cerebral era monitorado por ressonância magnética.

Embora os sujeitos jurassem que eles estavam decidindo fria e racionalmente, suas escolhas implicavam uma intensa atividade de zonas cerebrais classicamente envolvidas na regulação afetiva, na defesa psicológica e no "viés de confirmação".

O "viés de confirmação" é um funcionamento psíquico freqüente (e catastrófico) no diagnóstico médico, no discurso político e nas brigas de casais. Ele consiste no seguinte: o sujeito procura ativa e seletivamente (embora de maneira inconsciente) dados que confirmem sua hipótese ou o seu preconceito iniciais. O prazer de ter razão prevalece sobre argumentos e informações, produzindo cegueiras.

Com a pesquisa de Westen, as neurociências afirmam algo que a psicologia (social e clínica) sabe há tempo: nosso raciocínio é influenciado por afetos implícitos que nos levam a "minimizar estados afetivos negativos e potencializar estados afetivos positivos". A gente pensa e escolhe não no interesse da verdade, mas para sentir-se bem. O próprio Westen reconhece sua dívida mais antiga: "Freud descobriu esses processos há décadas, usando o termo "defesa" para descrever os processos pelos quais as pessoas adaptam seus resultados cognitivos de maneira a evitar sentimentos desagradáveis como angústia e culpa".

O que fazer com isso? É possível desistir da verdade, considerando que o mundo é um vasto teatro em que as subjetividades se enfrentam e que o que importa é apenas a versão de quem ganha a luta (retórica ou armada).

Ou, então, talvez seja possível amparar a verdade, preservá-la de nossas próprias motivações. Podemos, por exemplo, desconfiar de nossas idéias, sobretudo quando nos sentimos particularmente satisfeitos com o entendimento da realidade que elas nos proporcionam. Pois a verdade (com o curso de ação que, eventualmente, ela "impõe") é geralmente pouco gratificante e de acesso trabalhoso.

Um exemplo. Nossos deputados não precisam ter uma competência específica: o essencial, em princípio, é que sejam dignos de nossa confiança. Imaginemos que sejam. O orçamento prevê que cada deputado disponha de 25 auxiliares.

Sem dúvida, os eleitos precisam de secretários, motoristas e mesmo de marqueteiros, mas, antes de mais nada, para poder legislar, eles precisam de dados e informações corretas. A arte de um legislador eficaz está na sua capacidade de apreender a realidade para tentar melhorá-la, não na qualidade retórica que é a praga habitual do discurso político (geralmente animado por vontade de seduzir e viés de confirmação).

Portanto, um deputado deveria dispor de pesquisadores qualificados (por exemplo, jovens mestres e doutores das áreas jurídica, socioeconômica e científica), capazes de encontrar rapidamente, sobre cada assunto debatido, a literatura essencial e de resumi-la, traduzi-la e apresentá-la de maneira que o representante vote conhecendo (de verdade) a questão em pauta.

Pergunta: quantos dos auxiliares de nossos representantes respondem a esse critério básico?

ccalligari@uol.com.br

*O texto foi publicado originalmente em 24/07/2007 no caderno Ilustrada da Folha de São Paulo. Seção do jornal em que o autor escreve uma coluna às quintas-feiras.