Horário da roubada eleitoral: vou explodir
Botox, maquiagem, paisagens, gente sorrindo... Não dá para assistir a esse lixo e acreditar que ali tem algo sincero
HUGO POSSOLO - ESPECIAL PARA A FOLHA
Eu vou explodir! É o mínimo que deve fazer um palhaço-bomba depois de assistir ao horário eleitoral gratuito! Nem tão gratuito assim, pois vamos pagar caro por isso! Não tive como fugir dessa -com trocadilhos- roubada. A zona é tanta que mistura os gordos minutos da campanha presidencial com o conta-gotas esdrúxulo das campanhas a deputado e senador. São dois mundos.
No presidencial, Dilma e Serra pagam fortunas para que publiciotários criem um Brasil cor-de-rosa! Botox, maquiagem, paisagens, gente sorrindo, crianças sendo abraçadas...
Assista e veja um próspero país que aposta na continuidade. Continuidade de quê? Favelas? Tráfico? Juros? Educação no lixo? Cultura de perfumaria? Eu vou explodir! Tudo é tão revelador. Não acho que Lula goste tanto da Dilma: mandou ela ao Chuí e foi gravar no Oiapoque!
O Serra está mais para candidato a ministro da Saúde. Já a Marina nos garantiu minutos de distração com seu Discovery Greenpeace. No meio de tudo, algo me intrigou: se a vereadora Mara Gabrilli (PSDB) não deveria ter perguntado se alguém permitiria que Dilma cuidasse de seu filho, por que agora Dilma se apresenta como mãe do povo? Mais respeito!
Não coloquem a mãe no meio, que eu vou explodir! Já do lado de deputados e senadores, ressurge o filme de horror, com cada um cuspindo frases sem efeito, com o defeito de não terem nada feito e muito menos por fazer.
Honesto é o palhaço Tiririca, que diz que não sabe por que está ali. Se ele não fosse candidato, votava nele! Parece campanha pelo voto nulo! Seria covardia fazer piada com candidatos pseudocelebridades. Deve faltar emprego em entretenimento, então vão fazer bico no Congresso! Não dá para assistir a esse lixo e acreditar que ali tem algo sincero. Eu vou explodir!
Mas, no fundo, não quero que nada se exploda! Afinal, estamos todos bem, o país não tem mais desigualdades sociais, tem pré-sal e está repleto de bolsas. Nesse céu de açúcar cor de anil, a vontade é mandá-los todos à ...!
As reticências são uma homenagem ao TSE, que deveria ler os artigos de Hélio De La Peña e Danilo Gentili publicados aqui na Folha. Quem sabe assim, envergonhado, o TSE altere essa regra que representa a volta da censura nos moldes dos tempos da ditadura. Só explodindo!
HUGO POSSOLO, 48, palhaço, dramaturgo e diretor dos Parlapatões e do Circo Roda, é autor do livro "Palhaço-Bomba".
http://www1.folha.uol.com.br/fsp/poder/po1908201005.htm
A política se tornou de vez uma piada...e sem graça
Postado em 19 de agosto de 2010
por Cooperativa Cultural Brasileira
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