Cinema e artes plásticas

Postado em 6 de agosto de 2010 por Cooperativa Cultural Brasileira


Por Giorgio Rocha

São raros os filmes sobre artistas plásticos que conseguem através das imagens expor a estética do artista retratado. A transposição de uma linguagem para a outra é arriscada, por isso, alguns diretores preferem a segurança de seguir a estrutura de dramas biográficos.

Certos diretores ousam quebrar a fôrma e a forma: como no filme de 1986 sobre o pintor italiano Caravaggio, do cineasta experimental inglês Derek Jarman.

Interessante é observar quando os artistas plásticos se tornam cineastas. O norte-americano David Lynch cria as cenas como se jogasse tinta em uma tela e faz dos seus filmes experiências visuais viscerais e desafiadoras.

Visceral, desafiador, escatológico e também poético são algumas palavras que não definem totalmente a experiência de assistir Hunger, obra de estreia do cineasta inglês Steve McQueen (não confundir com o ator americano homônimo). O filme retrata os últimos dias de prisão de Bobby Sands, membro do IRA (Exército Republicano Irlandês) e líder dos prisioneiros que lutaram de todas as formas para obter do governo britânico a condição de presos políticos.

A primeira parte do filme exibe o grupo utilizando os protestos sujos. Restos de comida e excrementos são usados como armas pelos prisioneiros, e no olhar poético de McQueen tornam-se obras de arte. A parte final mostra os efeitos da greve fome iniciada por Bobby Sands.

                                 Steve McQueen e o ator Michael Fassbender.

Steve McQueen é um artista plástico premiado. A viagem intensa criada por ele revela a visão do artista que soube utilizar com precisão diversas linguagens.

Algumas cenas são difíceis de esquecer: o protesto feito pelos prisioneiros na cela com restos de comida e fezes poderia muito bem ser uma obra exposta em qualquer galeria do mundo. O modo que o diretor conduz a cena parece não retratar um ato de protesto, mas um artista durante o processo de criação.

Em Hunger, o martírio de Bobby Sands é a arma usada para que ele seja ouvido. A transformação do seu corpo é uma experiência visual única.

Hunger é cinema para todos os sentidos.

Hunger - Trailer
 

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