Por Giorgio Rocha
A cantora e compositora Luciane Valle nasceu na cidade de Jundiaí e começou a carreira aos 18 anos. Formada em História pela Universidade Estadual de Campinas, a cantora realiza um trabalho cuidadoso de resgate das canções do repertório popular brasileiro. Luciane Valle falou para o blog da CCB sobre o show em homenagem a Era de Ouro do Rádio, o projeto sobre o músico e compositor Guinga, entre outros assuntos.
Confira abaixo a entrevista.
CCB: Sua carreira como cantora e compositora mostra uma artista dedicada a pesquisar a história da música do Brasil. Existe algum período da música brasileira que te atrai mais?
Luciane Valle: Eu gosto muito de ouvir e pesquisar música brasileira, eu sempre estou descobrindo coisas interessantes de todos os períodos, então, particularmente, não existe um período que me atraia mais. Existem sim, músicas, compositores, músicos e interpretes que se destacam para mim, mas são de períodos diferentes.
CCB: Dia 12 de agosto, você realiza na cidade de Jundiaí um show em homenagem a Era de Ouro do Rádio. Como será o show e qual foi o critério para a escolha do repertório?
Luciane Valle: Esse show vai ser muito especial, pois quando fui convidada para realizar esse projeto, pensei em homenagear as cantoras do rádio (Carmem Costa, Carmem Miranda, Dalva de Oliveira, Linda Batista, entre outras) e convidei um amigo meu, que é um cantor especializado no repertório dessa época, o Roberto Mahn (Roberto Seresteiro), para homenagear os cantores (Francisco Alves, Silvio Caldas, Orlando Silva). Convidei também o Grupo Chorando na Sombra que é de Campinas e o violonista jundiaiense Maicol Agiani, então, será também um encontro de músicos e interpretes de 3 cidades (São Paulo, Jundiaí e Campinas).
A escolha do repertório foi muito difícil, pois se trata de um período de uma intensa produção musical devido, principalmente, ao surgimento do rádio e do cinema falado, então optamos escolher sucessos das cantoras e cantores do rádio e mesclamos com músicas que tem curiosidades para serem comentadas e excluímos as marchinhas de carnaval, que dá para fazer um show à parte (quem sabe o próximo...).
CCB: Fale sobre o projeto do show em homenagem ao músico e compositor Guinga. Aliás, o nome escolhido para a apresentação, “Absurdamente Simples e Simplesmente Absurdo”, é bem criativo!
Luciane Valle: Desde que eu comecei a investir na minha carreira de cantora, eu sempre colocava uma música ou outra do Guinga no meu repertório, mas eu achava que não estava bom, faltava algo e não sabia o que era. No ano passado, assisti um show dele e fiquei totalmente absorta (engraçado, já havia assistido vários shows dele, mas aquele me marcou...) e depois fui conhecê-lo pessoalmente, (detalhe: eu tinha muito "medo" dele...eu achava que ele era bravo...) depois que o conheci, descobri que além de ser um compositor genial ele é uma pessoa extremamente generosa e simples. A partir daquele momento descobri o que estava faltando... estava faltando mergulhar profundamente naquele repertório e entender o "universo de Guinga". Na época eu precisava escolher um compositor para estudar com o profº Zé Luiz Mazziotti na EMESP (antiga ULM), ele aceitou prontamente.
Então, esse show é o resultado de uma "imersão" que fiz na obra de Guinga. Esse ano, Guinga completou 60 anos de idade e no ano que vem ele completará 45 anos de carreira, então convidei dois músicos que eu tenho muita afinidade musical (Maicol Agiani - violão / Roni Carvalho - piano) e eles aceitaram o desafio.
Com relação ao nome do show, fiz uma alusão ao 1º disco solo de Guinga (Simples e Absurdo - 1991) e tem várias interpretações, a que mais gosto é: Absurdamente simples - faz referencia a minha escolha de acompanhamento (violão e piano) somente 3 pessoas no palco e Simplesmente absurdo - quem conhece um pouco de música, com certeza sabe como é complexo trabalhar com arranjos para violão, voz e piano. É um desafio grande e com certeza essa promovendo um grande enriquecimento artístico para todos!!
CCB: Em uma entrevista recente para um jornal, você fala sobre a influência dos seus pais na decisão de se tornar uma artista. Com era o ambiente na sua casa e de que modo seus pais te influenciaram?
Luciane Valle: Eu venho de uma família simples, o meu pai era carpinteiro, mas quando ele estava em casa, ele ia para o seu "quartinho" (oficina onde ele "reinava" com as madeiras) e tocava seu violão era a paixão dele, e eu ficava ouvindo ele tocar. A minha mãe era uma dona de casa, que enquanto lavava roupa ou louça, cantava músicas maravilhosas e sempre muito afinada. Esse ambiente que eu cresci, me deixou muito a vontade para desenvolver o meu lado criativo e quando escolhi fazer da arte a minha profissão, fui muito incentivada e apoiada por eles.
CCB: Por falar em influências, você sempre cita em entrevistas a cantora Clara Nunes. Quais são as suas influências musicais e o que te inspira?
Luciane Valle: Sempre ouvi e gosto das cantoras mais antigas, como Dalva de Oliveira, Isaurinha Garcia, Linda Batista, Eliseth Cardoso, adoro Mercedes Sosa e também as "cantaoras e cantaores" flamencos como: Carmen Linares, Remédios Amaya e Camarón de la Isla (esse me inspira continuar cantando). A Clara Nunes foi a cantora que eu mais ouvi na infância, embora eu tivesse pouca idade quando ela morreu, a sua interpretação era tão intensa que me marcou e eu acabei até fazendo um show em sua homenagem. A música instrumental brasileira também me inspira demais.
CCB: Um fato peculiar da sua carreira é que você decidiu se tornar uma cantora profissional por causa do trabalho com telegramas cantados. Já teve algum pedido de telegrama inesperado ou curioso?
Luciane Valle: O Telegrama Cantado foi o caminho que eu encontrei para desenvolver meu lado artístico, enquanto muitas cantoras e cantores iniciam suas carreiras em bares, bailes, etc eu tive essa escola que é muito gratificante, pois eu trabalho diretamente com a emoção das pessoas. Com certeza tenho muitas histórias para contar, são 14 anos de experiência... Uma delas foi o que chamamos de "telegrama fretado", pois fomos contratados por um marido que queria enviar um telegrama cantado de aniversário para esposa, mas ele só a encontraria no final da noite. Como a empresa onde ela trabalhava em São Paulo, não permitiu a nossa entrada, o marido sugeriu que nós cantássemos no ônibus fretado durante a viagem de Jundiaí a São Paulo. Foi muito inusitado, nós cantamos "escorados" nos bancos do ônibus e entre um solavanco e outro conseguimos com que todos se emocionassem...foi lindo !! Detalhe: o cunhado do Maicol (violonista) seguiu o ônibus e logo que terminamos voltamos para Jundiaí.
CCB: Luciane, agradeço a sua participação no blog da CCB e, caso deseje deixar algum recado ou mensagem final, fique à vontade.
Luciane Valle: Giorgio, obrigada pelo convite, gostei muito de participar e devo elogiá-lo pela elaboração das perguntas, foram feitas de forma muito inteligente.
Os leitores poderão conhecer um pouquinho mais da minha trajetória acessando minha página no myspace: www.myspace.com/lucianevalle ou me seguindo no twitter: @lucianevalle
Quem se interessar por algum projeto que estou desenvolvendo, informo que todos os meus projetos estão aí na CCB e que podem entrar em contato com a Daisy. Um abraço a todos!!!
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