Terça-feira, 27, às 19h, no Bar Empório Alto dos Pinheiros, ocorre o lançamento do segundo livro do músico e escritor potiguar Reynaldo Bessa. Há mais 20 anos radicado em São Paulo, Bessa já lançou cinco CDs, o mais recente com músicas suas sobre poemas de diversos autores brasileiros. O livro anterior do músico e escritor, “Outros Barulhos”, apoiado pela Cooperativa Cultural Brasileira (CCB), recebeu o Prêmio Jabuti 2009 na categoria poesia.
Leia abaixo a entrevista com o cooperado Reynaldo Bessa sobre o lançamento do livro “Algarobas Urbanas” – contos (Editora Patuá).
CCB - O seu livro de estreia, “Outros Barulhos”, é de poesia, e agora você vai para a prosa com o lançamento do livro “Algarobas Urbanas”. Você enxerga grandes diferenças entre os dois gêneros literários?
Reynaldo Bessa - Dizem que estou, aos pouco, me preparando para o grande mergulho: o romance. Talvez seja verdade. Mas enfim! São diferentes, sim, mas essas diferenças estão cada vez mais difíceis de discerni-las. Escrevo poemas em prosa livre (praticamente sem rimas) que mais parecem narrativas breves. Agora temos uma ascensão do mini-conto. Existe ainda a prosa poética: a proesia. O conto é um mecanismo de alta precisão. Dizem por ai que ele é uma poesia não dividida em versos, um romance condensado em capítulos. Enfim, penso que tanto um quanto o outro, exige o mesmo desafio, o mesmo empenho ou até posso dizer, o mesmo mergulho. Um poema “precisa” dizer muito em poucas palavras e acho isso ainda mais difícil. Tem gente que sua as bicas tentando fazer um haikai. Resumindo: às vezes penso que a poesia nunca nasceu e nunca morrerá. Desde os gregos. Ela sempre esteve ai e, portanto sempre estará. O gênero conto fez muito sucesso na década de setenta, um pouco depois perdeu o foco e agora volta com tudo.
CCB - Quais são os seus contos e contistas favoritos?
Bessa - Gosto dos contistas. Comecei por Edgar Allan Poe, depois vieram muitos outros. Atualmente estou lendo contos do Charles Bukowski. No Brasil, gosto dos contos do Rubem Fonseca, Nelson de Oliveira, Marcelo Mirisola, Reinaldo Moraes e tantos outros. Tenho predileção por muitos contos, mas guardo grande admiração por um do Gabriel Garcia Marquez. É o belo “O avião da bela adormecida”. Ele está na antologia “Doze contos peregrinos”. Perdi a conta de quantas vezes já o reli. Acho que essa insana releitura é uma forma de tentar fazer com que a bela adormecida no banco ao lado, enfim! Note a presença dele. (risos)
CCB - Não conhecia a algaroba, pesquisei e descobri que ela é uma planta não nativa capaz de se adaptar e assim sobreviver às condições de um ambiente hostil como, por exemplo, o sertão nordestino. Lendo alguns contos tive a impressão que a adaptação e as marcas causadas por ela são temas recorrentes no seu novo livro. A árvore da algaroba tem, então, este significado simbólico da necessidade de se adaptar por uma questão de sobrevivência?
Bessa - A algaroba possui uma força absurda de adaptação. Mesmo no concreto das grandes cidades, ela brota vorazmente buscando vida, espaço e sempre consegue. Essa árvore que costumo chamá-la de “camelo vegetal”, (por conseguir se adaptar ao solo árido e secas violentas, com quantidade mínima de água), povoou toda a minha infância e pré-adolescência. Mesmo depois de vinte anos em São Paulo, quando sento pra escrever, essa danada me vem à mente e sinto uma vontade e energia tremendas. Essa árvore frondosa nos oferece uma sombra fresca em meio ao sol torrencial do nordeste, mas é preciso atentar para os espinhos. Assim são os contos do livro... Como disse o escritor Nelson de Oliveira que fez a orelha do livro: (...) “Por isso certos parágrafos doem tanto. Há alfinetes neles. Há imagens pontiagudas e poéticas, que laceram as retinas do leitor” (...). O livro está impregnado de algarobas/parágrafos/alfinetes: nascendo, cavando, seguindo, alfinetando, indo, fuçando, vindo. Nunca descansando.
CCB - Chegadas e partidas também são outros temas que surgem em diversas páginas do livro. Assim como a questão de pertencer e ao mesmo tempo não pertencer a um determinado local ou ambiente.
Bessa - “Algarobas Urbanas” também quer dizer: sou de lá, daqui e de lugar nenhum, sempre alhures. É o menino, o adolescente, o homem em constantes diálogos, solilóquios. Perguntas demais para nenhuma resposta. Lacunas que nunca serão preenchidas. Partidas e chegadas sem fim.
CCB - Quais seriam os “frutos” de uma algaroba urbana?
Bessa - Contos recém caídos dos galhos. Todos eles escritos por um menino/rapaz/homem que apesar de viver há mais de vinte anos em São Paulo, acredita nunca ter saído das frescas e perigosas sombras das algarobas.
CCB - A Cooperativa Cultural Brasileira deseja muito sucesso para você e obrigado pela entrevista.
Bessa - A CCB é sempre muito participativa e por isso fundamental na minha carreira de escritor. Conto com todos vocês no lançamento.
Apareçam, então, dia 27 de setembro, terça-feira, das 19h às 23h para o lançamento de “Algarobas Urbanas” – contos. Meu segundo livro. Vai ser no Bar Empório Alto dos Pinheiros, 305 – Pinheiros.
Será uma bela noite. Haverá brindes.
Venham ficar sob as sombras das algarobas, mas cuidado com os espinhos...
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