Crônica de uma morte anunciada (o fim do Cine Belas Artes)

Postado em 21 de janeiro de 2011 por Cooperativa Cultural Brasileira


Giorgio Rocha,

Toda essa pendenga em torno do fechamento do cinema Belas Artes se desenvolve como um filme dramático daqueles que você espera por um final feliz. Quem se apresenta como o “herói” desta história é o Estado, e antes do apagar das luzes de forma definitiva, surge com a decisão de tombar o local. É a melhor solução? Simplesmente não sei. Alguns acham que não é função do Estado manter uma empresa privada que não se sustenta.

Certo é que com o tombamento, mesmo que o proprietário do imóvel não aceite a renegociação do aluguel do Belas Artes, ele não poderá mudar as características do espaço e transformá-lo em uma loja ou algo parecido. Tirar do proprietário a decisão de como ele deve utilizar o imóvel é uma atitude que me deixa ressabiado.

Em uma conversa com amigos escuto que pouco importa o local e sim a seleta programação de filmes cults e clássicos. Eles continuariam a ir ao Cine Belas Artes, mesmo em um novo endereço. Só não inventem de mudar o tipo de programação, disse um mais exaltado. Argumentei: o Belas Artes só é o Belas Artes, logicamente pela sua programação – quantos locais assim ainda temos em São Paulo? – e pela sua localização na esquina da avenida Paulista com a rua da Consolação. No fim da conversa fui chamado de saudosista.

Decidi, como bom saudosista, relembrar os filmes assistidos no Belas Artes. Lembrei de vários e também das pessoas que estavam comigo em cada ocasião. Tentei fazer a mesma coisa com os filmes vistos em uma dessas salas multiplex espalhadas pelos shoppings centers... Surgiu na memória o Avatar, mas meu cérebro não achou necessário guardar o local que vi o filme. É tudo igual e impessoal mesmo, não vale a lembrança.

Seja qual for o destino do Cine Belas Artes, o futuro parece reservar apenas um local para os cinemas de rua: a memória de um saudosista.

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