Por Alessandra Duarte, O Globo
Pesquisas mostram que família brasileira gasta R$ 65 por mês na área cultural e não acha justo pagar mais que R$ 20 por produtos
A família brasileira gasta cerca de R$ 65 do seu orçamento do mês com cultura. Dessa fatia, a maior parte vai para os livros ou para os shows de música.
Esse perfil dos hábitos de consumo de cultura no país é fruto de duas pesquisas que acabaram de ser divulgadas: “cultura em números - Anuário de Estatísticas Culturais 2009″, o primeiro anuário de estatísticas do setor, produzido pelo Ministério da Cultura (MinC); e “Consumo de cultura do brasileiro”, feita pela Fecomércio pelo segundo ano. O estudo do MinC mostra que, das despesas médias familiares por mês no país, R$ 64,53 são com cultura - ou 4,4% do orçamento. Para efeito de comparação, o gasto anual das famílias europeias com cultura há dez anos era de 2,7% na Lituânia a 5,8% na Dinamarca, segundo a Eurostat, órgão europeu de estatísticas. Já a Fecomércio revela que o item mais consumido é o Livro - 30% leram algum em 2008, contra 71% dos europeus em 2007. E que o preço que o brasileiro acha justo pagar por um produto cultural não passa de R$ 20.
Produzido em 2007 e 2008, o anuário traz dados gerais, como número de espaços culturais no país (o Sudeste concentra a maioria) e dados de cada arte. A pesquisa usou como principal fonte o suplemento de cultura da “Pesquisa de informações básicas municipais” (Munic, do IBGE) de 2006.
Gastos mensais com setor em sexto lugar
O anuário traz as despesas familiares mensais com cultura. Nesse consumo, não importa a faixa de renda, a área fica em sexto lugar, com 4,4%. Mas a pesquisa ressalta que, se for somado ao gasto com livros, filmes etc. o gasto com telefonia - considerada pelo IBGE como consumo indireto de cultura, por serviços como internet -, ela vai para o quarto lugar. O setor está abaixo de habitação, alimentação, transporte, assistência à saúde e vestuário, mas acima de educação.
A pesquisa também separa a despesa com cultura por segmentos, como escolaridade da pessoa de referência da família (o chamado “chefe da família”). Quando essa pessoa de referência tem menos de um ano de estudo, a despesa com cultura é, em média, de R$ 8,50; quando tem 11 anos de estudo ou mais, o valor chega a ser dez vezes maior, R$ 86,83. E, quando a pessoa de referência da família é branca, a despesa com cultura é de R$ 45,49; quando é parda ou negra, cai à metade, R$ 22,15 a R$ 22,67.
Se a publicação do MinC traz o total do consumo de cultura no Brasil, a pesquisa da Fecomércio abarca as características desse gasto. Realizada em 2008 em 70 cidades do país, incluindo nove regiões metropolitanas, o estudo indica que o livro foi o item mais consumido ano passado: 30% dos entrevistados leram algum naquele ano. Uma explicação para isso pode estar no anuário do MinC, que mostra que a biblioteca pública é o espaço cultural mais presente nas regiões - segundo o MinC, em 89,1% dos municípios (há museus em 21,9% das cidades; teatros, em 21,2% delas; e cinemas, em 8,7%).
- Taí a resposta! - disse Beatriz Radunsky, gerente do Espaço Sesc, cuja rede faz parte da Fecomércio, ao saber do dado do anuário do ministério. - As pessoas não precisam necessariamente pagar para ler um livro, podem pegar emprestado.
Falta hábito cultural a quase 60% do público
A razão mais citada pelos entrevistados para não terem consumido um produto cultural foi ”Não tenho o hábito”: em média, 57% não têm o costume de consumir livros, espetáculos de teatro ou dança, mostras, filmes ou shows. A diferença para a Europa é grande: segundo a Eurostat, na União Europeia, em 2007, pelo menos uma vez naquele ano, 71% leram um livro; 51% foram ao cinema; 41%, a um museu; 37%, a um show de música; e 32%, ao teatro.
É por falta de hábito que o casal Victor Grinbaum e Carol Herling não vai ao teatro.
Mas foi o ingresso um dos motivos pelos quais eles passaram a ir menos ao cinema.
- Já nos cobraram, num cinema no Leblon, R$ 25 por pessoa! Um ingresso de R$ 10 já está bom - disse Carol, de 29 anos.
Os dois gastam de R$ 40 a R$ 50 por mês com cultura, geralmente com livros, como os que olhavam na última quarta-feira na livraria na galeria do cinema Arteplex, em Botafogo.
- A gente compra muito em sebo, e também já peguei livro emprestado naquele serviço do metrô (Livros & Trilhos) - completa Grinbaum. - livro não era para custar mais que R$ 50. E tinha que haver versões de bolso para os mais caros.
Cultura de consumo
Postado em 20 de outubro de 2009
por Cooperativa Cultural Brasileira
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