Programa de governo do novo prefeito de São Paulo para a cultura

Postado em 30 de outubro de 2012 por Cooperativa Cultural Brasileira


Fernando Haddad, do PT, venceu no domingo (28) o tucano José Serra na disputa pela prefeitura de São Paulo. O programa de governo do prefeito eleito apresenta diversas propostas para o apoio à produção artística e cultural como: a implantação do Sistema Municipal de Cultura, a descentralização e diversificação das atividades culturais, valorização do artista de rua, criação de centros culturais, fomento a cultura digital e o lançamento de novos editais dos Pontos de Cultura.

Veja abaixo algumas propostas do prefeito Fernando Haddad para a cultura:

Cultura em toda parte: prevê a instalação, recuperação e remodelação de equipamentos culturais, implementando uma política de descentralização que não prescinda da tarefa de conferir visibilidade às produções até agora marginalizadas:

Criação de dois novos Centros Culturais de referência, um na Zona leste e outro na Zona Sul, com arquitetura sustentável.

Nas 31 subprefeituras serão implantados núcleos Culturais que resultarão da transformação dos espaços já existentes – equipamentos de cultura, educação, esporte ou mesmo parques e praças – em polos multifuncionais. Serão organizados também a partir das instalações dos diversos CeUs da cidade, que terão assim resgatados seu conceito original;
           
Ampliação da virada Cultural, tornando-a atividade recorrente. Estendê-la para além do Centro Histórico, procurando valorizar outras regiões da cidade e suas manifestações culturais.

Abertura de duas escolas Municipais de arte, uma na Zona leste e outra na Zona Sul, que oferecerão cursos de longa e curta duração em cinema e audiovisual, teatro, criação literária, dança e artes visuais. Serão instaladas nos dois novos Centros Culturais a serem construídos pela Prefeitura;

Estimular e fomentar a cultura tradicional e as práticas artesanais, acolhendo suas manifestações nos Pontos de Cultura;

Lançar novos editais dos Pontos de Cultura. Apoiar os existentes e criar condições para que se estabeleça uma rede de conexão entre eles.

Estabelecer um programa permanente de oficinas, cursos, workshops e ateliês, contínuos e itinerantes, que percorram periodicamente os espaços culturais administrados pelo poder municipal;

Elaborar políticas de mapeamento e divulgação da diversidade cultural paulistana;

Criar Portal de informação Cultural da cidade, destacando os eventos da semana, a programação cultural fomentada pela Secretaria Municipal, as atividades culturais e festas permanentes que ocorrem periodicamente em São Paulo.

Implementação do fundo Municipal de fomento à Cultura, com o objetivo de unificar e coordenar as linhas dispersas de financiamento municipal, ampliando os recursos disponíveis e atingindo as áreas até agora não contempladas.

Ampliar o orçamento do valorização de iniciativas Culturais (vai) para que se tenha um leque maior de linguagens artísticas  contempladas. Ampliar as faixas de financiamento e a duração do benefício.

Lançamento de editais que contemplem manifestações artísticas e culturais pouco consolidadas e valorizadas pelo mercado.

O programa Bolsa-cultura criará um financiamento no formato de bolsa, que remunere mensalmente o agente cultural e permita a prestação de contas da aplicação dos recursos, de modo simplificado e desburocratizado.

Implantação do Sistema Municipal de Cultura.

Valorizar e dar visibilidade às principais obras artísticas e culturais da cidade – dentro da concepção de museu a céu aberto –, tais como monumentos públicos, projetos arquitetônicos e bairros históricos e até mesmo manifestações efêmeras, como grafites, rituais afrobrasileiros e indígenas etc.

Implantação do projeto internet Popular: acesso gratuito à internet para que o cidadão utilize de forma remota os diversos serviços disponíveis nos web sites da administração Pública Municipal.

Cidade digital livre, inovadora e inclusiva: com o objetivo de fomentar o desenvolvimento de tecnologias colaborativas, abertas e promovidas por coletivos e indivíduos, a gestão de Fernando Haddad estimulará as seguintes políticas e ações:
             
Estímulo a ações de ocupação das ruas por artistas e produtores culturais, como forma de ampliar o compromisso dos cidadãos com o espaço público; organização e articulação de processos de realidade aumentada, com a colaboração dos cidadãos e construindo os caminhos múltiplos entre o ciberespaço e os prédios, praças e ruas;

Criação de Casas de Cultura digital. Esses espaços, com banda larga de alta velocidade, serão centros de inovação em tecnologia digital e produção de conteúdo audiovisual.

Veja todas as propostas em:

Fonte Giorgio Rocha – com informações do site Pense Novo TV

101 anos de Nelson Cavaquinho

Postado em 29 de outubro de 2012 por Cooperativa Cultural Brasileira

Hoje (29/10) Nelson Cavaquinho completaria 101 anos; na ponta dos seus dedos músicas eternas e um estilo inimitável.


Dia Nacional do Livro

Postado em por Cooperativa Cultural Brasileira


Instituído pela Lei nº 5.191, de 13 de dezembro de 1966, o dia 29 de outubro foi escolhido para ser o Dia Nacional do Livro por ser a data oficial da fundação da Biblioteca Nacional.

Inicialmente chamada Real Biblioteca no Brasil, ela começou com um acervo de 60 mil peças, entre livros, manuscritos, mapas, moedas, medalhas, etc. trazidos de Portugal com a vinda da família real portuguesa para o Rio de Janeiro em 1808.

A Biblioteca Nacional é a maior biblioteca da América Latina, sendo considerada pela Unesco uma das dez maiores bibliotecas nacionais do mundo.

Fonte: IBGE

"Poder público não consegue perceber grandeza do Masp", diz curador do museu

Postado em 25 de outubro de 2012 por Cooperativa Cultural Brasileira

O Museu de Arte de São Paulo (Masp) está abandonado pelos poderes públicos, especialmente o federal, afirma Teixeira Coelho,curador da instituição. "Não há no poder público uma disposição para perceber a grandeza do Masp", diz ele.


Com o mais importante acervo do hemisfério sul, o museu saiu da crise institucional, que culminou com o corte de eletricidade, em 2006, mas não tem fôlego para implementar exposições de artistas brasileiros contemporâneos que considera fundamentais.

Com a bilheteria e o apoio de R$ 1,2 milhão do governo municipal, o Masp obtém verba para se manter apenas por quatro dos 12 meses do ano --seu orçamento é de R$ 12 milhões. Os outros oito meses do ano dependem de doações e patrocínios.

Para Coelho, representa a falta de política dos governos para instituições culturais.

Ele crítica também que, a dois anos da Copa, o governo federal não tenha dado início a um projeto cultural, nos moldes do que Londres organizou durante a Olimpíada.

"O Masp continua blindado. Como seu acervo é tombado, nós pedimos assento em seu conselho, junto com os governos estadual e municipal, mas eles não respondem. É preciso abrir sua administração e não ficar apenas pedindo dinheiro", disse à Folha José do Nascimento Júnior, diretor do Ibram (Instituto Brasileiro de Museus), vinculado ao Ministério da Cultura.

Quanto à Copa, Nascimento Júnior diz que o governo elaborou um projeto de R$ 250 milhões, mas está buscando verba.

"A ministra Marta Suplicy encontrou-se com o ministro do Esporte [Aldo Rebelo] nessa semana para tratar disso."

Em suas críticas aos governos, Teixeira Coelho poupa Marcelo Araujo, o secretário de Cultura do Estado de São Paulo: "Tenho boas expectativas sobre sua gestão. Ele é uma pessoa da área, que sabe o que é necessário".

Araujo concorda que o Estado precisa dar apoio ao Masp. "Estamos realizando um processo de aproximação com o Masp para compor parcerias", afirma o secretário.

Para Coelho, parte das dificuldades enfrentadas pelo museu tem a ver com o preconceito em relação ao centralismo da gestão Júlio Neves (1994-2008), que extinguiu a figura do curador.

"Existe uma coisa chamada hábito cultural, que faz com que não se mude o modo de pensar uma coisa", diz.

Leia abaixo a entrevista que o curador concedeu à Folha.

Folha Estamos a dois anos de um megaevento na cidade, que é a Copa do Mundo. Em Londres, por conta das Olimpíadas, a Tate inaugurou uma nova ala. O Masp pretende fazer algo?

Teixeira Coelho - Um dos primeiros eventos da Olimpíada, em Londres, de que tive conhecimento, foi um concerto de música clássica que eu ouvi pela rádio, meses antes de ela começar. E foi um evento anunciado como parte da Olimpíada. Os ingleses cuidaram disso. As pessoas vêm para as cidades ver dois ou três jogos de futebol, mas fazem também turismo. E buscam cultura.

Quais são os planos do governo brasileiro para a Copa? Estamos a dois anos e nada foi programado. Sozinho o MASP não pode fazer mais do que já faz.

Masp não foi procurado?

Nada. E eu não sou de ficar aqui sentado esperando. Quando busquei o governo para discutir caminhos de cooperação, me disseram: "Na semana que vem, agora não posso, agora vou viajar..." Se existe um Ministério da Cultura, são eles que deveriam nos procurar.

Então não existe uma política federal para as instituições culturais?

Não. Claro que se você falar com o Instituto Brasileiro de Museus, o Ibram, eles vão dizer que possuem uma política e que o Masp precisa aderir ao sistema nacional de museus. Mas se você trocar em miúdos, nós nunca fomos capazes de ver nada de concreto.

Mas e os editais que eles promovem?

São editais de valores baixos, que pouco representam para o Masp. Eu aprendi que é preciso tratar desigualmente os desiguais. Isso não é tão antidemocrático como parece, pois significa tratar com mais intensidade os desprotegidos e com menos intensidade os mais favorecidos. Isso significa também que determinadas instituições, por sua importância, precisam ser tratadas de forma adequada. Não se trata o Masp como um pequeno museu de memória do interior.

O atual governo tem priorizado o apoio a projetos do Norte e Nordeste. Você concorda com essa política?

Essa é uma questão importante de política cultural. Se você vai na rua Florêncio de Abreu, em São Paulo, lá existe ferragem, na rua da Consolação, produtos de iluminação. O que quero dizer com isso? Existe em cultura algo que diz respeito à concentração. Na universidade isso é chamado massa crítica. Concentrando você pode irradiar. No Brasil, antes de haver concentração, chega um monte de apressadinhos que querem descentralizar.

Isso foi um efeito perverso da Lei Rouanet. Desconcentrou, pulverizou, e as instituições foram rebaixadas a um nível de tábula rasa. Algumas privadas se fortaleceram, mas as públicas não. Não foi só o Masp quem sofreu, o MAC também. O pensamento tem sido "o Masp que se vire sozinho, ele é elitista, tem boas obras". Mas ele não se vira sozinho. O Louvre ainda recebe 30% de verbas do Estado, se não me engano.

Quanto o Masp consegue de bilheteria?

É um grande tema. Da bilheteria, 66% não pagam nada: idosos e crianças. Em qualquer lugar avançado do mundo, idoso às vezes tem redução de 10%. Assim, 33% dos que entram no Masp pagam alguma coisa, e o preço do ingresso está congelado há seis anos. Então, é quase nada.

O que isso representa de fato?

Com 800 mil visitantes por ano, a bilheteria paga cerca de dois meses de manutenção do museu. Assim, a Prefeitura de São Paulo, que repassa por ano, por conta de um decreto, cerca de R$ 1,2 milhão, paga um mês e meio, dois meses de manutenção do museu, os visitantes outro tanto. E os quase oito meses, já que o orçamento do Masp está em R$ 12 milhões, quem paga? Doações e patrocínio.

Com as questões do passado recente do museu, como a centralização do ex-presidente Júlio Neves, você acha que o Masp sofre preconceito?

Sim. Existe uma coisa chamada hábito cultural que faz com que não se mude o modo de pensar uma coisa. Certas coisas grudam e vão ficar. Se todo mundo tivesse mente aberta, seria possível mudar de opinião a respeito das coisas.

Eu sabia de tudo isso quando entrei no Masp. Por que aceitei? Ou você fica na arquibancada xingando o juiz, e eu cansei de xingar, ou pega a camisa e vai jogar. Eu escrevi em vários lugares, inclusive na Folha, que o problema do Masp era que ele não tinha curador. Possivelmente por isso fui convidado e o que eu podia responder? Seria muito acadêmico não aceitar, eu não sou acadêmico a esse ponto.

Mas se a elite intelectual ainda descrê do Masp, a população o torna ainda um dos museus mais visitados. É meio esquizofrênico, não?

Parafraseando um político famoso, o público do museu quer ver arte e não está interessando em questões que interessam a outros.

Um fenômeno recente interessante foram as filas para ver os impressionistas no CCBB, sendo que o Masp possui obras dos mesmos artistas com a mesma qualidade...

Aquilo é um evento e o Masp não é. Mas eu não compartilho com a ideia que um evento é necessariamente uma besteira. Etimologicamente, evento é algo que rompe uma rotina.

Se os impressionistas no CCBB servem para romper a rotina dos impressionistas do Masp, ótimo! Acorda, desperta, dá um choque. Mas, fila não mede muita coisa. Aqui também tivemos filas para o Caravaggio e eu acho isso algo indigno. Eu não faço fila para ver arte. Estou lutando para resolver esse problema de filas.

Por outro lado, o Masp ainda tem uma dívida com os artistas brasileiros. O Prêmio Masp, pelo qual venho batalhando desde o início de minha gestão e que só concretizamos neste ano, é uma forma de resgatar a divida do Masp com os artistas brasileiros. Mas fizemos um programa de exposições de artistas brasileiros e pergunta-me se conseguimos patrocínio!

Até hoje temos artistas convidados, que fizeram projetos, mas não conseguimos levantar patrocínio porque as empresas não pagam pelo artista brasileiro e o bolso do Masp não consegue fazê-lo.

Isso não é outra perversidade das leis de incentivo, pois os patrocinadores só apoiam nomes fortes?

Eu aprendi que é preciso ver as coisas por perspectivas distintas. Tem patrocinador que não está preocupado com rendimento de mídia, mesmo porque alguns, não me pergunte quais, não querem que se coloque sua logomarca.

E por que eles apoiam Caravaggio? Porque é conhecido e porque o patrocinador gosta dele, sinceramente! Agora se eu quero mostrar um artista conceitual brasileiro, o patrocinador não o conhece porque não sabe o que é arte conceitual. Ele não está errado, é a instituição que tem que dar um jeito de mostrar aquilo que ela acha que é importante. Só que o museu tem que lutar para ficar à tona. Não é digno que um país deixe um museu lutando para ficar à tona! O país tinha que encontrar um jeito para que o Masp navegasse.

Mas o Brasil vive uma fase de uma euforia no mercado, isso não se reflete nas instituições?

Nós continuamos, do ponto de política cultural, do mesmo modo que estávamos há muitos anos atrás. Alguma instituição tem sucesso porque se renova, como Fundação Bienal, que a duras penas consegue se manter, e outras nem tanto. Então, eu não vejo essa melhora do mercado se refletir nas instituições de arte, como o Masp, um museu que não tem, praticamente, apoio público, com exceção de pequeno aporte do município.

A indiferença e o alheamento em relação às questões de cultura e arte no Brasil continuam os mesmos, tanto do poder público, da iniciativa privada ou da sociedade civil. Eu não sou inimigo da lei Rouanet, porque sem ela o Brasil seria uma cela gelada em termos de cultura; mas o fato é que ela não acostumou a iniciativa privada a colocar dinheiro próprio na cultura.

Ao mesmo tempo, foram criadas instituições como o CCBB, que ajudam a movimentar o setor. Mas há brasileiros que doam dinheiro ao MoMA e não nada para o Masp ou outras instituições do Brasil.

Masp foi criado por um mecenas, o Assis Chateaubriand. Há mecenas hoje?

Os mecenas acabaram. Quando eu estava no MAC eu ouvi de um colecionador que doações como as do Ciccillo e do Chateaubriand nunca mais, porque ele tem herdeiros e os herdeiros fazem questão de continuarem proprietários das obras. Naquele tempo a arte não tinha alcançado também o patamar econômico que tem hoje, não tinha os mesmos preços de hoje. Aquela fonte secou. A isso, se acresce o absoluto desconhecimento pela sociedade civil das funções de um museu. A sociedade americana sabe o peso disso, o mesmo na Europa.

Mas as dificuldades do Masp não têm uma relação por conta da centralização, por anos, de um grupo liderado pelo Júlio Neves?

O Brasil é um país provinciano no sentido de que rixas ideológicas, familiares ou pessoais comandam o cenário e é impossível colocar isso em segundo plano. Se a sociedade que mantém o Masp tem sua parcela de responsabilidade, os poderes públicos também.

Há dois anos o Masp ficou 18 meses sendo investigado por uma promotora de Justiça e nada de significativo foi encontrado e o Masp venceu em primeira instância. Não há no poder público uma disposição para perceber a grandeza do Masp. A Pinacoteca encontrou na OS [Organização Social] uma forma de se manter, mas pelos estudos que o Masp fez, não valeria a pena passar a ser uma OS. Por cinco anos me encontro me encontrei com o Ministério da Cultura e nada acontece!

Uma das primeiras iniciativas da Marta Suplicy foi visitar o Masp...

Tentarei conhecer suas intenções a respeito.

Você tem uma boa expectativa em relação à ela?

Não tenho nenhuma expectativa em relação a ninguém, sem querer ser sarcástico. É que eu sei que, estruturalmente, o Estado brasileiro é indiferente à cultura e à arte. Nós conseguimos sobreviver, mas é difícil, até porque a lei Rouanet dificulta, já que ela é feita ano a ano, não há como planejar dois ou três anos adiante.

A gente tem que planejar uma mostra com maior antecedência, mas não tem autonomia econômica para concretizá-la.

E o Marcelo Araújo, como secretário de Estado?

Tenho boas expectativas sobre sua gestão, ele é uma pessoa da área, que sabe o que é necessário.

Qual é a vocação do Masp, hoje?

Quando fui chamado para ser curador, há quase seis anos, eu propus ao Masp uma linha de atuação baseada na configuração dele. Esse museu aqui, guardadas todas as proporções, é uma espécie de Metropolitan pequeno, fruto da política inicial do museu que era inclusiva: ele tem arte europeia, arte pré-colombiana, cerâmica italiana, etc, típica ideia de um museu do século 19.

Então não há porque ignorar a coleção do museu e não constituir um repertório a partir dele. Hoje, temos seis mostras prontas, a partir do acervo, que se revezam em mostras de longa duração. O museu, então, tem um repertório, como células que apontam para possibilidades de exposição. Surgindo interesse de outro museu, a mostra está pronta para viajar.

O museu não tem como seguir na linha de aquisição, como quando o Chateaubriand era vivo, não porque não se queira, mas porque os preços estão absurdos, e para que ele não se encerre em sua coleção, é preciso que ele se alimente com exposições de arte contemporânea, o que também temos feito. A Bienal percebeu essa tendência do MASP e ela também acontece aqui neste ano, com dois artistas.

Uma prática cotidiana hoje é produtores organizarem exposições para os museus, terceirizando seus serviços. Os museus não têm mais capacidade de organizar mostras sozinhos?

Não é bem terceirizar. Qualquer museu hoje em dia apresenta exposições de outro lugar, mesmo o MoMA, e isso não é um demérito. Você não oferece uma exposição do Caravaggio para a tendinha da esquina. Mas terceirização é uma tendência internacional.

Não quer dizer que seja uma política do Masp, mas faz parte de uma pulverização de algo que antes era muito concentrado. Hoje o museu não é está mais isolado, tem a Bienal, as feiras, os centros culturais, produtoras independentes. Um museu não dá conta sozinho. Temos aqui só três curadores, somos poucos.

E o que representa o prédio ao lado, que está sendo reformado, para o Masp?

A previsão é que ele seja inaugurado no primeiro semestre de 2014. Nós recebemos uma doação de 2.000 obras de arte asiática, do colecionador Fausto Godoy, e parte dela será exibida onde hoje é o restaurante, que vai para o novo prédio. Uma parte da administração também vai para lá, assim como a lojinha, e nele faremos uma escola de arte revolucionária para a cidade.

Em que sentido?

Eu não posso avançar nesse assunto, mas será de fato diferente, porque vai mexer com essa ambiente de São Paulo.

Em 2014 será o centenário do nascimento de Lina Bo Bardi e o Instituto Lina Bo e Pietro Maria Bardi não quer que a mostra comemorativa ocorra no Masp pois o museu não apresenta o projeto expositivo dos cavaletes na coleção. Por que o acervo permanente continua sem usar os cavaletes?

Por que deveria continuar? Por que uma proposta expositiva deve continuar para sempre? O Brasil é um país profundamente patrimonialista e preservacionista. É inconcebível que se queira manter uma mesma maneira de expor eternamente. Tentaram tombar os cavaletes do Masp no Condephaat e eles perceberam que isso não era possível. Por outro lado, a primeira exposição que fiz como curador do MASP, com o artista Alex Flemming, utilizou os cavaletes da Lina...

Fonte Folha de São Paulo

Minc pode tirar aposentados do Vale Cultura para ter aprovação do projeto

Postado em 23 de outubro de 2012 por Cooperativa Cultural Brasileira


Nova secretária executiva do Ministério da Cultura, Jeanine Reis tem pela frente ao menos dois desafios: a aprovação pelo Congresso do Vale Cultura - que tanto Juca Ferreira quanto Ana de Hollanda não concretizaram - e o aumento no orçamento do ministério. Para tanto, admite a retirada dos aposentados do projeto do Vale Cultura. "É melhor conseguirmos o benefício para os trabalhadores que não aprovar o projeto", diz.

Nomeada há duas semanas por Marta Suplicy, Jeanine Pires substitui Victor Ortiz, homem forte da gestão anterior. Formada em História, com especialização em Economia do Turismo, ela já trabalhara com a ministra durante sua passagem pelo Ministério do Turismo. Entre 2006 e 2010, foi presidente da Embratur e, na entrevista a seguir, fala do objetivo de articular a produção cultural e a imagem do Brasil no exterior, apostando na "importância da cultura para a identidade e a imagem de um país". 

Você tem vasta experiência no setor de turismo e presidiu a Embratur. Como pretende utilizar esta experiência na promoção e incentivo à produção cultural nacional?

Jeanine Pires - Estive durante oito anos na Embratur e a experiência no turismo me mostrou que seremos mais competitivos melhorando infraestrutura, produtos e serviços turísticos, mas sobretudo se nossa diversidade natural e cultural estiverem sendo promovidas como atrativos do Brasil. Nossa cultura é que nos diferencia e nos torna únicos. Aqui a valorização de nossa identidade e patrimônio são fundamentais.

Qual sua posição sobre o Vale Cultura e sobre sua importância para a indústria cultural brasileira? Concorda com a proposta de retirada dos aposentados do projeto? 

Jeanine Pires - O Vale Cultura será um grande avanço para o acesso à cultura no País, possibilitando o consumo também de bens ligados a todas as áreas da arte, música, cinema, patrimônio, entre outros. É muito importante que o projeto seja aprovado, e o fato é que a inclusão dos aposentados inviabiliza financeiramente a proposta. Assim, é melhor conseguirmos o benefício para os trabalhadores do que não aprovar o projeto. Creio que existem mecanismos até mais amplos e interessantes que podem dar aos aposentados oportunidades na área de cultura como o Programa Viaja Mais Melhor Idade, que a ministra Marta lançou quando estava no turismo. Isso possibilita oportunidades maiores para pessoas que podem programar viagens em períodos de baixa estação e com descontos.

Em termos práticos, tem em mente alguma ação já aplicada, e bem sucedida, no setor turístico que possa ser utilizada também no setor cultural, em questão de produção, difusão, divulgação?

Jeanine Pires - As oportunidades são imensas, nesse pouco tempo que estou aqui já identifiquei, por exemplo, que a ampliação da projeção da imagem do Brasil no exterior será cada vez maior nos próximos anos, e que nosso patrimônio cultural tem grande apelo e curiosidade. As pesquisas que existem com estrangeiros que conhecem ou gostariam de conhecer o Brasil mostram que o estilo de vida dos brasileiros, nossa música, arte, cinema, televisão, ou aspectos de nossa cultura, como o frevo ou a gastronomia, são motivos para conhecer o país. Vejo que a difusão da cultura brasileira pode trazer benefícios por meio de cooperação e estímulo para que o mundo conheça nossos valores.

Como analisa, e como vai tratar a aprovação do novo orçamento do Ministério da Cultura para o próximo ano?

Jeanine Pires - Estamos focados em encerrar 2012 com uma boa execução orçamentária. Em 2013, o orçamento aprovado já contempla uma ampliação de 63%, incluindo ações importantes como o PAC das Cidades Históricas e a ampliação dos Pontos de Cultura, por exemplo.

Qual sua posição sobre a decisão do Ministério da Cultura de lançar editais para produção cultural realizada por negros? Acredita que esta é mais uma forma de democratizar não só o consumo, mas também a produção cultural no País?

Jeanine Pires - É uma ação afirmativa. Acredito que a ministra foi sensível em propor, o que fez em resposta à reivindicação de diversos produtores e criadores.


Fonte: O Estado de S.Paulo

Proposta institui Bolsa-Artista

Postado em 22 de outubro de 2012 por Cooperativa Cultural Brasileira


A Câmara analisa o Projeto de Lei 4281/12, do Senado, que institui a Bolsa-Artista, destinada à formação e ao aprimoramento de artistas amadores e profissionais, das artes literárias, musicais, cênicas, visuais e audiovisuais. Pela proposta, a bolsa será concedida pelo prazo de um ano, em 12 parcelas mensais. O valor será definido em regulamento.

Para pleitear a bolsa, o artista deverá ter no mínimo 14 anos. Se menor de 18 anos, deverá estar matriculado em instituição de ensino pública ou privada, a não ser que já tenha concluído o ensino médio. O estudante também não poderá ser beneficiário de qualquer outro programa governamental de formação profissional na área.

Segundo a proposta, a Bolsa-Artista será concedida prioritariamente a artistas em processo de formação em suas respectivas áreas de atuação e será regida por princípios como valorização da diversidade de estilos, gêneros e linguagens artísticas, ênfase no pluralismo de ideias e preservação da diversidade cultural brasileira.

De autoria dos senadores Inácio Arruda (PCdoB-CE) e Vanessa Grazziotin (PCdoB-AM), o projeto estabelece ainda que a seleção dos artistas será feita anualmente, por comissão constituída por representantes do governo federal e de entidades vinculadas à comunidade artística, conforme regulamento. As despesas decorrentes da concessão da Bolsa-Artista correrão por conta de recursos orçamentários da União.

Tramitação

De caráter conclusivo, a proposta será analisada pelas Comissões de Educação e Cultura; de Finanças e Tributação; e de Constituição e Justiça e de Cidadania.

Íntegra da proposta:

Fonte: Agência Câmara de Notícias

Entrevista Aline Yasmin - festival Espírito Mundo

Postado em 19 de outubro de 2012 por Cooperativa Cultural Brasileira


A publicitária, produtora e poeta Aline Yasmin é presidente do Instituto Quorum - uma das entidades responsáveis pela realização do festival de intercâmbio cultural Espírito Mundo. Aline fala para o blog da CoopCultural sobre as edições do festival que ocorreram em maio deste ano nas cidades de São Paulo e Vitória – ES.                                

Em maio de 2012 ocorreu pela primeira vez no Brasil o festival Espírito Mundo. As edições que aconteceram nas cidades de São Paulo e Vitória – ES corresponderam às expectativas dos realizadores?   

Foi fantástica a oportunidade de realizar essa contrapartida do que já fazemos desde 2008 e receber aqui nossos amigos para interagir mais ainda com os brasileiros, que participaram ou que participarão das edições. O ciclo do intercâmbio fica mais completo e gira de forma mais agregadora ao processo como um todo - de compreensão de nossas culturas.

A diversidade da programação é algo que chama atenção. Além dos shows, o público tem acesso a oficinas, mostras, seminários, residências, entre outras atividades. Quais eventos das edições brasileiras você destacaria?

Aline Yasmin
Para nós é fundamental que se tenha o máximo de contato entre o público e artistas entre si. É uma proposta inovadora em se tratando de internacionalização porque não focamos simplesmente em entretenimento, mas no verdadeiro intercâmbio entre as áreas e também no pensamento que se constrói e reconstrói nesse fluxo contínuo entre as mais diversas atividades. Elas não são fechadas e sempre trabalhamos novos desdobramentos. Destaco no nosso projeto as residências e oficinas como um diferencial e que gera um lastro efetivo entre os participantes, com continuidade que ultrapassa o festival.

Em relação aos artistas que participam do festival, como é feita a seleção dos músicos brasileiros e estrangeiros? Quais são os parâmetros para participar do festival?
Trabalhamos com artistas autorais, que sejam emergentes, que representem sua arte sem apelação ou estereótipos. É um processo objetivo, mas também subjetivo. Formamos uma equipe de colaboradores no Brasil e fora dele para avaliar os inscritos que queiram participar. Não são apenas músicos, mas poetas, artistas plásticos, dançarinos, atores, performers e toda forma de manifestação que possa se integrar ao formato dos eventos e também das parcerias que firmamos. As escolhas são feitas finalmente pelos estrangeiros a partir de uma pré-seleção.

Os artistas devem entender a parceria e terem uma postura empreendedora para participar, considerando o risco de ter que assumir a própria passagem em caso de não termos captado recurso. Trabalhamos todos os dias do ano para abrirmos mercados, buscarmos oportunidades e darmos visibilidade no cenário internacional para artistas emergentes. É uma tarefa ambiciosa e muito mais complexa que levar artistas consagrados, mas acreditamos que alguém deva cuidar disso. Muitos resultados maravilhosos estão surgindo de parcerias que se firmam e trabalhos que se consolidam lá fora depois de cinco anos realizando as atividades no exterior.

Cooperativas apoiam a realização do projeto Espírito Mundo. Como funciona a relação entre as cooperativas, os cooperados e o projeto?

Vários cooperados fazem parte dessa história, inclusive o próprio presidente que fazia parte da banda que fez o primeiro intercâmbio. Já levamos muitos cooperados e o aprendizado volta para “casa”. Temos uma experiência internacional concentrada, que talvez se veja em poucas organizações. Isso se traduz em experiência partilhada e uma vivência artística extremamente rica, contribuindo para o resultado estético. Mas, sobretudo, é muito bom estar entre amigos e viver situações tão inspiradoras. Somos cúmplices de excelentes histórias. 

Por falar em cooperativas; 2012 é o Ano Internacional das Cooperativas, seu estado tem criado políticas para o apoio e desenvolvimento do cooperativismo?

Temos uma gerência de cooperativismo no atual governo que está se aproximando das cooperativas para estabelecer políticas e apoiar projetos. Temos cooperativas fortes nos segmentos de saúde e agronegócios.  O SEBRAE também aposta muito no cooperativismo e trabalha junto com a Organização das Cooperativas Brasileiras.  Ainda é um processo embrionário em se tratando do segmento de cultura. No nosso estado somos únicos por enquanto. Estamos aprendendo bastante e sempre que possível, nos articulando com outras cooperativas, a exemplo da Cooperativa Cultural Brasileira que é nossa parceira desde a fundação. 

A Cooperativa Cultural Brasileira é uma instituição que apóia o projeto Espírito Mundo. Fale da parceria com a CCB. 

Sempre contamos com a equipe e com a presença da CCB em nossos projetos. Admiramos a seriedade e a continuidade dos trabalhos da Cooperativa que acreditamos poderá se integrar ainda mais. Estamos abertos a pensar juntos a questão da internacionalização enquanto política e abrir caminhos para que tenhamos cada vez mais cooperados participando do projeto. 

Os festivais do projeto Espírito Mundo ocorrem na França, Inglaterra, Espanha e agora também no Brasil. Vocês planejam levar o festival para outros países? Ele terá edições em outras cidades brasileiras?

Temos muitas propostas de outros lugares tanto nesses países como em outros. A cada ano ampliamos um pouco mais. Nesse ano consolidamos nossa participação em Paris e fortalecemos um processo que para nós é muito significativo que são as redes de residências artísticas. Acredito que iremos caminhar mais para esse formato que é extremamente enriquecedor e mais tangível. De qualquer forma, nosso grande desafio é ainda encontrar parceiros e financiadores desse projeto, que representa em termos de empreendedorismo cultural, uma grande inovação. Muitos caminhos ainda precisam ser percorridos. Há ideia de se trabalhar em outros estados que possam abraçar o projeto e se fazer representar nas nossas ações. Talvez sejam os próximos a sediar a nossa empreitada. O Brasil é imenso, mas o mundo é logo ali.

Por Giorgio Rocha

Brasil celebra os centenários de Jorge Amado, Mazzaropi, Luiz Gonzaga e Nelson Rodrigues

Postado em 18 de outubro de 2012 por Cooperativa Cultural Brasileira


2012 é um ano de centenários importantes para a cultura brasileira e um momento especial para celebrar a vida e obra de figuras marcantes como Jorge Amado, Mazzaropi, Luiz Gonzaga e Nelson Rodrigues. No centenário do nascimento destas personalidades: peças, filmes, exposições e prêmios mostram como suas obras contribuíram para a construção da identidade cultural brasileira.

O MinC (Ministério da Cultura) lançou no começo do ano o Edital Prêmio Centenário Luiz Gonzaga. Dos 589 projetos inscritos no edital, 20 foram selecionados. Cada projeto recebeu uma quantia em torno de R$ 100 mil para homenagear o Rei do Baião e o seu universo cultural e artístico. O Governo de Pernambuco declarou 2012 como o Ano Cultural Luiz Gonzaga e em parceria com o MinC constrói em Recife um centro cultural para homenagear o poeta sanfoneiro.

O dramaturgo Nelson Rodrigues também deu nome a uma premiação do Ministério da Cultura. Um montante de R$ 1,3 milhão foi destinado para a montagem de espetáculos baseados nas 17 obras do escritor. No teatro Arena Eugênio Kusnet, na cidade de São Paulo, ocorre até 2013 à mostra Quem Ainda Tem Medo de Nelson Rodrigues? com a apresentação de cinco espetáculos ( montagens de textos como O Beijo no Asfalto e Os Sete Gatinhos), além de workshops, leituras, exposição de imagens e textos do dramaturgo.

As comemorações do centenário do escritor Jorge Amado começaram em 2011; neste ano serão lançadas edições especiais dos seus livros. Durante 2012 museus brasileiros recebem a exposição Jorge Amado e Universal. A mostra traz material inédito como fotos, manuscritos e vídeos do acervo da família do autor baiano. Os cem anos do nascimento de Amácio Mazzaropi, o eterno Jeca Tatu, foram celebrados com a inauguração da Praça Centenário Amácio Mazzaropi, em Taubaté, sua cidade natal, e com a exibição dos seus filmes em cópias restauradas na Cinemateca Brasileira de São Paulo.
           
O time dos centenários

Luiz Gonzaga – O Rei do Baião

Foto – Exu, 13 de dezembro de 1912 — Recife, 2 de agosto de 1989

Suas canções popularizaram o baião, o xote e o xaxado pelo país.

Nelson Rodrigues – O Anjo Pornográfico

Foto - Recife, 23 de agosto de 1912 — Rio de Janeiro, 21 de dezembro de 1980

Sua peça Vestido de Noiva é considerada precursora do teatro moderno brasileiro.

Amacio Mazzaropi  - O Jeca Tatu

Foto - (São Paulo, 9 de abril de 1912 — Taubaté, 13 de junho de 1981) 

Realizou 32 filmes em três décadas. Seu filme O Corintiano foi recorde de bilheteria do cinema brasileiro.

Jorge Amado – O Pelé da literatura

Foto - (Itabuna, 10 de agosto de 1912 — Salvador, 6 de agosto de 2001)

Escreveu os clássicos: Gabriela, Cravo e Canela, Dona Flor e Seus Dois Maridos
Tieta do Agreste e Capitães da Areia.


Por Giorgio Rocha

Blog Acesso entrevista a presidente da CoopCultural Marília de Lima

Postado em 17 de outubro de 2012 por Cooperativa Cultural Brasileira


“As cooperativas são um lembrete para a comunidade internacional de que é possível buscar tanto a viabilidade econômica quanto a responsabilidade social”, declarou o secretário-geral das Nações Unidas, Ban Ki-moon, por ocasião do Ano Internacional das Cooperativas 2012. Segundo a organização internacional, as cooperativas estão presentes em todos os setores da economia e são responsáveis pela garantia de 100 milhões de empregos no mundo, 20% a mais do que as empresas multinacionais.

Para Marília de Lima, presidente da Cooperativa Cultural Brasileira, o cooperativismo tem demonstrado ser uma das melhores opções para a organização e formalização dos profissionais da cultura, setor que se destaca em todo o mundo como eixo de desenvolvimento. Em entrevista ao Acesso, Marília fala sobre o papel do cooperativismo nas indústrias cultural e criativa e sobre o empreendedorismo em cooperativas.

Acesso – O cooperativismo na área da cultura já é bastante difundido no Brasil?

Marília de Lima – No Brasil, o cooperativismo na área cultural ainda está sendo descoberto e reconhecido. Em outros países, já está melhor estruturado. Em Portugal, por exemplo, existem mais de 300 cooperativas de cultura e um ramo específico do setor. Porém, a visão de “cultura” em outros países é mais global, inclui novas mídias, design, esporte, moda, línguas, meio ambiente, além das belas artes, culturas tradicionais, patrimônio, etc. No mundo, mais de 1 bilhão de pessoas, em mais de 100 países, estão associadas ao cooperativismo. Como a cultura é comum, transversal a todos os assuntos, o espaço para essa difusão é gigantesco.

Acesso – A organização em cooperativas é uma alternativa para o desenvolvimento do setor?

M. L. – A cultura de uma maneira geral vem crescendo e despontando, em todo o mundo, como um eixo importante e que deve ter seus investimentos e organização assistidos. O cooperativismo na área da cultura vem sendo apontado como uma das melhores soluções, pois atende a muitas necessidades, uma vez que o trabalho dos profissionais da cultura é diverso e aleatório, não se encaixando no formato tradicional que a maioria conhece.

Acesso – Você se refere à informalidade do trabalho na área da cultura?

M. L. – No Brasil, temos um grande problema com relação à informalidade do setor. A união em cooperativas – que são empresas de pessoas e não de capital, porém com objetivo econômico – é um caminho para formalizar as contratações diretas destes trabalhadores. Outro fator importante na criação de cooperativas de cultura é a garantia de que não haja atravessadores que burlem os direitos trabalhistas. Vemos, hoje, muitas produtoras que pagam direto os contratados sem o devido recolhimento dos impostos. Ao se unir a uma cooperativa de cultura, o profissional obterá auxílio no desenvolvimento e estruturação das atividades, divulgação de seus trabalhos, representações para projetos e contratações.

Acesso – E por que alguns editais excluem a participação de cooperativas se o trabalho cooperado é um direito previsto pela legislação brasileira?

M. L. – O cooperativismo no mundo tem mais de 150 anos e, este ano, está sendo exaltado e divulgado em todo o mundo pela ONU, que declarou 2012 como o Ano Internacional do Cooperativismo. Então, prefiro acreditar que seja por pura falta de conhecimento das leis do cooperativismo e das grandes discussões internacionais sobre trabalho, economia criativa e economia solidária. Um dos objetivos na formalização de sócios em torno de uma cooperativa é que esta possa ser a empresa que os representará junto a tomadores de serviço e junto a editais. Por ser uma empresa de pessoas e não de capital, por termos uma lei federal e muitas leis estaduais e municipais por todo o Brasil que fomentam o apoio ao cooperativismo, por ser uma das recomendações da OIT sobre as melhores formas de trabalho, por ser o Ano do Cooperativismo, entre tantos outros argumentos, é que os departamentos jurídicos de muitas entidades e do governo deveriam repensar e reescrever a participação de cooperativas em editais, licitações e concursos, entre outros.

Acesso – A Cooperativa Cultural Brasileira pode ser vista também como uma incubadora de cooperativas?

M. L. – Cooperativa Cultural Brasileira pode, sim, ser vista como uma incubadora de outras cooperativas de cultura. A importância é que façamos, assim, um só coro em defesa deste setor e do seu desenvolvimento. A intenção não é defender a música, o teatro, a dança ou o patrimônio histórico, a intenção é criar uma grande frente de trabalho organizada, formal e justa para os profissionais da cultura. Hoje, vemos muitas intermediações na área, nas quais menos de 30% do montante é o que sobra para o trabalhador, ainda sem os devidos impostos recolhidos, o que seria de direito. A união e a sinalização de um caminho conjunto também discutirão outros assuntos como a bitributação, a regulamentação de variadas profissões, mais leis de incentivo ao setor, organização municipal e estadual em torno da cultura e do cooperativismo.

Acesso – E como se dá o acompanhamento das novas cooperativas?

M. L. – Auxiliamos os interessados em criar suas cooperativas culturais em qualquer parte do Brasil e em qualquer segmento cultural. Pode ser uma cooperativa com temas mistos ou segmentados. O importante é que sejamos fortes, que trabalhemos de acordo com as leis e que possamos, realmente, ajudar na distribuição justa das verbas da cultura e da melhoria do trabalho. Outro ponto importante é o empreendedorismo. Nesse ponto, o acompanhamento é fundamental para que as novas iniciativas sobrevivam. As cooperativas não são uma solução em si, são ferramentas para auxiliar o profissional. Portanto, um dos pontos mais importantes no período de incubação é a criação de um pensamento de gerenciamento conjunto de uma empresa. O resultado só virá com o trabalho, o empenho e a visão de mercado de cada um dos profissionais envolvidos. A cooperação tem que ser, efetivamente, o foco. Portanto, não há milagres e nem soluções mágicas, o que deve existir é trabalho e trabalho em conjunto.

Acesso – Que papel poderão ocupar as cooperativas no desenvolvimento do setor da economia criativa?

M. L. – Para responder, vou citar primeiro a definição de Edna dos Santos-Duisenberg, chefe do programa de Economia e Indústrias Criativas da UNCTAD, aConferência das Nações Unidas para Comércio e Desenvolvimento: “a economia criativa seria uma abordagem holística e multidisciplinar, lidando com a interface entre economia, cultura e tecnologia, centrada na predominância de produtos e serviços com conteúdo criativo, valor cultural e objetivos de mercado, resultante de uma mudança gradual de paradigma”. As cooperativas de cultura se encaixam perfeitamente nessa definição: podem mudar a visão do próprio trabalhador da cultura, que, muitas vezes, é reticente em ver a cultura como um segmento econômico, mas depende dela para viver com dignidade. Também muda a visão do público em geral, por ver um formato de empresa que tem a possibilidade de oferecer cultura livre e variada de forma organizada e bem apresentada, sem que seja moldada pelo capitalismo selvagem como vemos por aí. Hoje, muitos empreendimentos culturais têm prioridade no capital e não na arte e na sua comunicação com o público. Nesse formato, o profissional é o menos importante. Já nas cooperativas de cultura, o profissional é valorizado e bem remunerado e sua arte acontece sem barreiras, ele é o dono. A cooperativa de cultura é a imagem que traduz a economia criativa, que é um universo de ideias, artes, projetos e ações com conteúdo criativo, diverso e abrangente, que poderá ser comprado ou apresentado ao mercado, gerando movimentação econômica justa e contribuição social de alta performance.
Nesse sentido, vejo que o cooperativismo não só contribui como é parte das ações da economia criativa. Há muito que os artistas e profissionais se organizam em associações, coletivos, grupos, etc. O formato cooperativista é a formalização econômica do que já é fato.

Por blog Acesso

Início do cooperativismo na Inglaterra e no Brasil

Postado em por Cooperativa Cultural Brasileira



No auge da Revolução Industrial um grupo de tecelões da cidade de Rochdale, contrário as condições precárias de trabalho nas fábricas da Inglaterra, fundaram em 1844 a primeira cooperativa moderna: a Sociedade dos Probos de Rochdale. No começo eram apenas 28 associados, em pouco mais de uma década o número de membros chegou a mais de 3 mil.

Cooperativismo no Brasil

O Cooperativismo em terras brasileiras se fortaleceu no final do século 19 com a chegada de imigrantes de origem alemã e italiana, mas as primeiras iniciativas, ainda que tímidas, tiveram origem no período colonial.

Organizações do cooperativismo

ACI - Aliança Cooperativa Internacional

OCA – Organização das Cooperativas das Américas

OCB - Organização das Cooperativas Brasileiras

Ocesp - Organização das Cooperativas do Estado de São Paulo

Sescoop - Serviço Nacional de Aprendizagem do Cooperativismo

Por Giorgio Rocha

Lei restabelece o ensino de música para estudantes da educação básica

Postado em por Cooperativa Cultural Brasileira


Em 1970 o Governo Federal decidiu pelo fim da obrigatoriedade das aulas de músicas nas escolas. 38 anos após esta mudança foi sancionada a Lei 11.769 (depois da mobilização de cooperativas, universidades e associações), durante o segundo mandato do ex-presidente Lula, que restabelece o ensino de música para estudantes da educação básica. Escolas públicas e privadas devem até o final de 2012 concluir o processo de adaptação e realizar a contratação dos professores.

A lei não estabelece a proposta pedagógica e o conteúdo programático, as instituições de ensino têm autonomia para definir estes pontos. Mas existe uma recomendação do Ministério da Educação para as escolas: às aulas de música devem possibilitar ao estudante conhecer a diversidade cultural brasileira (seus ritmos, danças, cantos e sons de instrumentos regionais), para ir além do ensino das noções básicas de música e de instrumentos de orquestra. O objetivo do ensino nas escolas não é formar músicos, ainda segundo a recomendação do Ministério da Educação, e sim desenvolver a coordenação motora, a criatividade e promover a expressividade e sociabilidade dos alunos.        

A história do ensino de música no Brasil

Anos 30 - Maestro Heitor Villa-Lobos, quando Secretário da Educação Musical no governo Getúlio Vargas, estabelece como obrigatório o ensino de música nas escolas.

1970 - Governo Militar retira dos currículos escolares as aulas de músicas. Fim da obrigatoriedade.

2008 - Lei nº 11.769, sancionada pelo ex-presidente Lula, volta a tornar o ensino de música obrigatório.

2012 – Até o final deste ano as escolas públicas e privadas devem concluir o período de adaptação e contratar os professores de música.

Por Giorgio Rocha

Por dentro do incentivo a cultura

Postado em 16 de outubro de 2012 por Cooperativa Cultural Brasileira



Rouanet – Lei Federal de Incentivo à Cultura criada em 1991  

Objetivo: estimular a produção, a distribuição e o acesso aos produtos culturais (CDs, DVDs, espetáculos musicais, teatrais, de dança, filmes e outras produções na área Audiovisual, exposições, livros nas áreas de Ciências Humanas, Artes, jornais, revistas, cursos e oficinas na área cultural, etc)

Programa Nacional de Apoio à Cultura (PRONAC) –  repassa os recursos para os projetos aprovados na Rouanet.

Fundo Nacional de Cultura (FNC) –  os seus recursos são destinados para a concessão de prêmios; apoio para a realização de intercâmbios culturais e outros programas divulgados por edital e etc.

Secretarias do Ministério da Cultura responsáveis pela gestão e a execução de propostas culturais: Secretaria de Incentivo e Fomento à Cultura (Sefic), Secretaria do Audiovisual, Secretaria de Programas e Projetos Culturais (SPPC)  e Secretaria da Identidade e da Diversidade Cultural (SID). 

ProAC (Programa de Ação Cultural) – criado pelo Governo do Estado de São Paulo em 2006.

Objetivo: apoiar e patrocinar a renovação, o intercâmbio, a divulgação e a produção artística e cultural no Estado. Áreas contempladas pelos editais do ProAC: música, teatro, dança, festivais de arte, artes cênicas para crianças, circo, literatura, inclusão cultural, artes visuais, cinema e audiovisual, patrimônio cultural e museus.

Lei de fomento da Cidade de São Paulo  

A Secretaria Municipal de Cultura de Cultura apóia projetos culturais no município de São Paulo através dos Programas de Fomento ao Teatro, Dança, Cinema e o Programa para a Valorização de Iniciativas Culturais – VAI.

O Fomento ao Cinema existe desde os anos 90. Os outros programas foram criados em meados dos anos 2000. Os projetos aprovados recebem recursos diretos do orçamento da Prefeitura de São Paulo.

Fontes: Ministério da Cultura, Secretaria de Estado da Cultura e Secretaria Municipal de Cultura de São Paulo.

2012 – Ano Internacional das Cooperativas e a construção de um mundo melhor

Postado em por Cooperativa Cultural Brasileira


No ano de 2008 começou nos Estados Unidos uma severa crise econômica que contaminou outros países, com mais força as nações desenvolvidas  Diversos bancos e empresas foram à falência ao redor do mundo e milhões de pessoas perderam seus empregos e moradias. Governos, políticos, analistas e organizações de várias nações debatem e buscam saídas para uma crise que especialistas econômicos afirmam ser a pior já ocorrida no capitalismo.

Enquanto o mundo busca soluções para superar o período vivido de dificuldade econômica, a Organização das Nações Unidas (ONU), com a escolha de 2012 como o Ano Internacional das Cooperativas,  aponta o modelo cooperativista como parte da solução. Em Assembléia realizada em 2011, que definiu o ano das cooperativas,  o Secretário Geral da ONU Ban Ki-moon fez a seguinte declaração: “o cooperativismo é um exemplo para a comunidade internacional que é possível buscar tanto o desenvolvimento econômico como o bem-estar social. O recado do Secretário Geral da ONU foi claro: existe para os países um modelo de desenvolvimento econômico adequado, igualitário e justo.

O cooperativismo, fundamentado em princípios sólidos como: gestão democrática,  autonomia e independência, educação, informação e interesse pelo bem-estar da comunidade, tem capacidade, com o devido apoio, de combater a desigualdade social e melhorar a qualidade de vida não apenas dos seus associados, mas também da população onde atuam.

O reconhecimento das Nações Unidas com a escolha de 2012 como o Ano Internacional das Cooperativas é uma excelente oportunidade para mostrar o trabalho realizado pelas organizações na solução dos problemas socioeconômicos e para a construção de um mundo mais justo. O sistema presente em mais de 100 países, nos cinco continentes, responde diretamente pela geração de 100 milhões de empregos. E abre-se também uma janela de oportunidade para o cooperativismo estabelecer um diálogo permanente com governos para a criação de políticas e leis que o promovam e propiciem estabilidade e crescimento para as cooperativas. 

Por Giorgio Rocha