Será que a Bienal se tornou um parque de diversões?

Postado em 26 de outubro de 2010 por Cooperativa Cultural Brasileira


Por Giorgio Rocha

A indagação do título da postagem foi feita pelo cooperado Guillermo Von Plocki, durante a entrevista para o blog da CCB. Guillermo é artista plástico e designer gráfico, nasceu na Argentina e, na Alemanha, se graduou em Ilustração e Design Gráfico. Radicado em São Paulo, já teve sua obra exposta em diversos países.

*Imagem da postagem:Vera 2 - Guillermo von Plocki- Aquarela – 2008

CCB: Até o dia 12 de dezembro acontece a 29ª Bienal de São Paulo. Quais são as suas impressões sobre a edição deste ano?

Guillermo: Realmente não fiquei decepcionado, já conheço a proposta, mas senti muita falta da pintura, a boa pintura contemporânea. Será que a Bienal eliminou a pintura?

Por outro lado, são resgatáveis as obras de Gil Vicente (que, enfim, não foi censurado), de Nuno Ramos e seus pássaros exilados, de Flavio de Carvalho e Goeldi, poucos ou pálidos reflexos da decadência que assola nossa sociedade cultural. Será que a Bienal se tornou um parque de diversões? Além disso, o pichador é artista?

Sempre vejo tudo com otimismo e acredito que tudo sempre pode ficar melhor. E, se a Bienal não foi tão boa, às vezes é necessária uma crise para mudar.

CCB:Você acredita que foi um acerto da Bienal tratar a relação entre a arte e a política?

Guillermo: Será necessário propor uma temática para as Bienais? Será que não seria mais interessante respeitar as inquietações de cada artista?

CCB: Houve uma tentativa de censurar os desenhos do artista Gil Vicente, na série “Inimigos” ele aparece assassinando diversas personalidades. Falta um debate no Brasil sobre arte e liberdade de expressão como houve nos EUA, nos anos 80, por causa das imagens do fotógrafo norte-americano Robert Mapplethorpe?

Guillermo: A sociedade escandaliza-se com imagens de políticos sendo assassinados, quando no Brasil morrem muitas crianças de fome, ou pela violência, pelas drogas. Acredito que a arte e a educação podem trazer alguma luz a partir da base da educação. O Brasil tem um potencial humano extraordinário que precisa ser cultivado e adubado nos princípios da sociedade.

CCB: Você nasceu em Córdoba, na Argentina, se graduou na Alemanha em Ilustração e Design Gráfico e, escolheu o Brasil para viver e trabalhar. Como as particularidades dos três países interagem na sua obra?

Guillermo: Em alguns casos, eu diria que estas particularidades são essenciais para o desenvolvimento de algumas obras, como no trabalho Sem retorno. Trata-se de um corpo dividido em três partes, os pés representam Argentina, meus fundamentos, minha infância e educação elementar; a cabeça representa a profissão e experiência na Alemanha; finalmente, a parte visceral – o centro, o ponto de equilíbrio – que representa o Brasil.

CCB: Suas pinturas, desenhos e aquarelas pedem um olhar atencioso e revelam diversas camadas e parecem lidar também com a questão de um olhar cada vez mais fragmentado das pessoas em relação aos objetos. É correta esta afirmação sobre o seu trabalho?

Guillermo: Talvez não tenha muita consciência disso, por esta razão é bom que o trabalho seja visto. O olhar do público sempre trará outros pontos de vista, isto enriquece o trabalho.

As camadas fazem parte da técnica e também do que pretendo evidenciar.

No caso específico da trilogia 64, 73 e 82 dpi trata-se justamente da fragmentação da sociedade, entre outros motivos, pelo consumismo e pelo tempo perdido em função do computador.

CCB: Em seu atelier são ministrados cursos e oficinas. Fale sobre estas atividades.

Guillermo: Arte e interação da cor, baseado nos conceitos e nas teorias das cores de professores da escola Bauhaus alemã.

Aquarela experimental, proposta que relaciona esta técnica com outras técnicas, como o guache, o nanquim, a cera, além de outros meios relacionados com a aquarela.

Também dou orientação e suporte para artistas formados ou em processo.

Estes cursos são ministrados no Atelier de Sílvia Alves para o curso da cor, curso este que foi ministrado também no SESC Pompéia no primeiro semestre de 2010, também previsto para 2011.

Conheça mais sobre o cooperado Guillermo Von Plocki:

http://www.guillermovonplocki.com/site/

http://www.flickr.com/photos/12300457@N05/

http://www.plockiaquarelas.blogspot.com/

http://pt-br.facebook.com/people/Guillermo-von-Plocki/100000034465582

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