Entrevista com o criador do Programa Cultura Viva Célio Turino

Postado em 24 de setembro de 2010 por Cooperativa Cultural Brasileira


Por Giorgio Rocha

Célio Turino, ex-secretário de Cidadania Cultural do Ministério da Cultura, esteve terça-feira, 21, na sede da Cooperativa Cultural Brasileira para participar da Oficina do Saber, ministrada pelo diretor e ator de teatro e TV, José Carlos Freirya, através da parceria estabelecida entre o Ponto de Cultura Cia Maja, Escola Cooperativa das Artes e a Cooperativa Cultural Brasileira. Antes de participar da oficina, Turino concedeu uma entrevista para a Cooperativa Cultural Brasileira. Confira abaixo.

Sobre o Programa Cultura Viva e os Pontos de Cultura

“Cultura é um processo e não um produto. Quem faz cultura é a sociedade e não o Estado, quando o Estado se meteu a fazer cultura deu coisa errada, mas cabe a ele garantir meios para que esse fazer cultural aconteça com protagonismo e autonomia... Essa é essência do Programa Cultura Viva e da Lei Cultura Viva.”

“O Programa Cultura Viva se diferencia em relação a outras políticas públicas de cultura do Brasil e do exterior no sentido de possibilitar o avanço no processo de empoderamento da sociedade. Por este motivo o Ponto de Cultura chamou tanta atenção. Agora outros países do mundo começam a implantá-lo. Artistas e grupos culturais defendem os Pontos de Cultura como política na Argentina, Uruguai, Paraguai e Colômbia... O governo da Inglaterra a pedido dos artistas de lá mandou um delegação ao Brasil para conhecer as experiências... É um trabalho de vanguarda a partir de uma política pública construída no Brasil e que hoje tem reconhecimento governamental e acadêmico.”

Falta de espaço para o debate sobre cultura nas eleições

“A cultura ainda não foi incorporada enquanto um valor fundamental, por isso lancei a minha candidatura a Deputado Federal... Deixe o Ministério da Cultura, estava lá como Secretário da Cidadania Cultural, exatamente para demonstrar que a cultura é a riqueza das nações, a cultura é à base de tudo e ela tem que ser percebida pela sua centralidade e não como um acessório. A cultura não entra em conflito com outras necessidades básicas da sociedade, pelo contrário, a educação é um meio de transmissão de cultura, um povo com cultura e que se reconhece em sua identidade cuida melhor da sua saúde, tem uma relação com a política diferenciada, vive em sociedades mais pacíficas, saudáveis e seguras.... É isso que eu quero demonstrar.”

Propostas para a cultura

“Minhas propostas são: a criação da lei para transformar as experiências do Ponto de cultura em política permanente de Estado, algo que não mude com a troca de governo, além disso, um Ponto de Cultura em cada escola, um investimento que não é tão alto assim, daria R$ 5.000,00 por mês, e se poderia ter em cada escola estúdios multimídia, jovens fazendo cinema, fazendo rádio, desenvolvendo a sua ação cultural de uma forma toda. E a terceira lei é a Griô, para os mestres, para o saber tradicional, em reconhecimento do saber do mestre de capoeira, da parteira, do mestre de Folias de Reis... Uma outra lei que quero apresentar é a do Protagonismo Juvenil, algo semelhante ao serviço militar, em que o jovem de 16 a 24 anos teria a opção de passar um ano em atividades comunitárias para obter uma formação em torno da cultura. O jovem poderia trabalhar como orientador de leitura, como um agente em uma escola aberta no fim de semana, no parque, no museu, no Ponto de Cultura, como monitor de teatro e assim servindo o seu povo. Tudo isso é simples, é possível ser feito.

No caso da Lei do Protagonismo Juvenil, um custo de um jovem em um ano seria de R$ 3.600,00, mais ou menos o que Estado gasta com a Fundação Casa para manter o jovem preso... Ou seja, são outros caminhos e possibilidades que a cultura oferece e que se a sociedade se dispuser a perceber e investir nisso, pelo menos as pessoas que atuam em torno da área da cultura, seguramente, todos vão ganhar muito.”

Papel de uma cooperativa de cultura no debate e elaboração de políticas públicas

“Uma cooperativa de produtores culturais demonstra esse outro caminho possível na cultura e desta maneira podemos elaborar leis mais consistentes. O que uma cooperativa tem é sobretudo vivência em torno da cultura e, por este mesmo motivo ocorre uma aproximação de qualidade com o poder público e também uma convergência no sentido da necessidade da cultura ter uma legislatura...”

“Uma lei fundamental é em relação ao trabalhador da cultura. Ele faz parte de uma das categorias mais precarizadas, que não tem segurança nenhuma... Quem trabalha com arte e cultura trabalha com a alma, funciona como um antena da sociedade, trabalha com a cidadania, mas como você vai defender a cidadania dos outros se a sua própria não é respeitada... Então é necessário defender uma legislação que seja adequada à realidade do trabalhador da cultura, para evitar que ele passe 30, 40, 50 anos fazendo teatro e de repente não tenha uma aposentadoria... Ele pode ser um produtor cultural, um trabalhador de circo ou um ator, não existe uma legislação para esse mercado de trabalho e eu acredito que a cooperativa tem muito a contribuir porque ela vive diariamente todos esses problemas.”

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